Saiba da importância das pulp magazines para o desenvolvimento da Ficção Científica
Pulp Fiction não é somente um nome bonito que o diretor Quentin Tarantino usou para intitular uma de suas obras mais famosas. As pulp magazines surgiram nos Estados Unidos, no final do século XIX, em uma época em que o pós-guerra afetou o mercado de edição de livros e a literatura, para garantir sua sobrevivência, tomou um rumo mais popular. Pulp nada mais era do que polpa de madeira e as pulp magazines, que tiveram auge entre 1920 e 1950, tinham esse nome por causa do papel grosseiro, barato, de polpa pouco prensada e baixa durabilidade.
Vendidas em bancas de jornal e tabacarias, consistiam em uma alternativa mais barata para um público de baixa renda, mas nem por isso com pouca sede de cultura – funcionavam como um escape da realidade para os trabalhadores operários e imigrantes, que se viam em meio a crises econômicas e guerras mundiais. As histórias das pulp magazines tinham enredo simples, leves, de fácil leitura, e eram voltadas para todos os tipos de público, desde os que gostavam de mistério, aventura e romance até faroeste, terror e sobrenatural.
Um gênero amplamente difundido dentro das pulp magazines foi o de ficção científica. Em Ficção Científica – Um Gênero para a Ciência (2012), Roberto C. Belli explana sobre os principais periódicos que ajudaram a consolidar a vertente. Primeiramente, o aparecimento das pulp foi marcado pela mudança editorial da Argosy Magazine. Em 1896, o editor Frank Munsey decidiu transformar a publicação: antes dedicada ao público masculino, a revista passou a se voltar para textos de ficção, transformando-se em uma pulp.
A Argosy apresentava histórias de diferentes gêneros, sendo uma revista importante na divulgação de novos autores. Um deles foi Johnston McCulley, que publicou, em 1919, A maldição de Capistrano (The Curse of Capistrano), conto famoso por dar origem, no ano seguinte, ao filme A marca do Zorro. A revista, que teve seu fim em 2005, também publicou obras de Edgar Rice Burroughs – quem hoje não conhece as histórias do Tarzan?
Já a Weird Tales Magazine, fundada em 1923 pelo ex-jornalista J.C. Henneberger, era especializada em contos “incomuns”, de fantasia e terror. O primeiro número teve participação de Walter Scott, considerado o inaugurador do romance histórico, e de H.G. Wells, que contribuiu com contos e novelas. H. P. Lovecraft publicou por vários anos no periódico, iniciando com Dagon (1923) e também escrevendo artigos como ghostwriter sobre o famoso mágico Harry Houdini. A revista se encerrou em 1954. Em 1988, a Wildsid Press se interessou pelos direitos e banca até hoje suas edições, agora bimestrais.
Já a primeira pulp magazine dedicada à ficção científica foi a Amazing Stories Magazine, criada em 1926 por Hugo Gernsback, que é considerado, por muitos, o pai da ficção científica moderna. A qualidade desta pulp era muito superior às revistas até então publicadas, algo notável em sua primeira edição, que trouxe histórias de H.G. Wells, Júlio Verne e Edgar Allan Poe. O que mais chamava a atenção do público para a compra das pulps eram suas capas – Frank R. Paul determinou o estilo das capas da Amazing Stories e foi responsável, em 1927, pela capa do livro Guerra dos Mundos, de H. G. Wells. Em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, Gernsback precisou vender as revistas que controlava, mas as características da publicação foram mantidas pelos editores seguintes. Autores como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, Robert Heinlein e Ray Bradbury se influenciaram pelas histórias desta pulp, que teve o último volume publicado em 2005.
Outra publicação de destaque no gênero ficção científica foi a Astounding Stories Magazine, que já existia em 1930, mas ganhou fôlego oito anos depois, quando John W. Campbell assumiu como editor. Campbell ajudou a definir o conceito de ficção científica – para ele, “considera-se ficção científica, e não fantasia, quando há um esforço de extrapolação profética do que é conhecido.” Segundo Isaac Asimov, Campbell foi a mais poderosa força do gênero, pois procurava sempre por autores que buscassem temas diferentes dentro do campo. O editor lançou, além do próprio Asimov, A. E. Van Goth, Roberth A. Heinlein e Arthur C. Clarke. Os maiores escritores mundiais passaram pela Astounding – a revista se tornou a mais vendida nos Estados Unidos. Nela, eram encontrados contos no estilo conhecido como hard que, segundo o pesquisador Belli, era “uma novidade que fez da ficção científica um gênero respeitado pelo elevado nível técnico de seus escritores e pelos temas que discutiam”. Em 1960, a Astounding passou a se chamar Analog Magazine, que continua nas bancas até hoje com o nome de Analog Science Fiction and Fact.
Entre outras pulps que abordavam o terror, o sobrenatural e a ficção científica também estão The Thrill Book, Strange Tales, My Self – The Occult Fiction Magazine, Ghost Stories, Starling Stories, Thirilling Wonder Stories, Planet Stories, Marvel Science Stories e Fantastic Stories.
Bibliografia
BELLI, Roberto C. Ficção Científica: um Gênero para a Ciência. Blumenau: Edifurb, 2012. Série Essência.
MATEUS, Anabela. As Pulp Magazines. Babilónia, número 5, p. 57-65, 2007. Disponível em: <revistas.ulusofona.pt/index.php/babilonia/article/download/876/710>. Acesso em 28 de fevereiro de 2015.