Lygia Fagundes Telles, escritora indicada ao Prêmio Nobel de Literatura, carrega o nome do Brasil e de outras duas minorias ignoradas pelas homenagens de alto escalão
Uma informação valiosíssima para nós, brasileiros, vazou para a imprensa nos últimos dias: Lygia Fagundes Telles está cotada para a disputa do Prêmio Nobel da Literatura de 2016. Essa distinção é dada pela Academia Sueca, sendo considerada a maior honraria na carreira de um escritor. Na verdade, esse vazamento foi feito por debaixo dos panos – será que algum velhinho da Academia se cansou da mesmice e quis fofocar? –, já que, teoricamente, só se divulgam os concorrentes 60 anos depois da escolha.
Porém, agora que sabemos que Lygia está na corrida, estamos torcendo triplamente: ela é mulher, brasileira, latinoamericana. Três grupos que ainda são raros nessas cerimônias, e mais escassos ainda sendo agraciados com os grandes prêmios. Para analisar as chances de Lygia, podemos conferir um pouco da história dessa premiação, que acontece desde 1901.
Durante os 114 anos de sua ocorrência (ainda que, em algumas datas, principalmente nas épocas de guerras mundiais, nenhum autor tenha sido escolhido), apenas 14 mulheres foram condecoradas. Analisando as vencedoras, podemos ter esperança, já que os nomes femininos começaram a aparecer com mais frequência a partir dos anos 90 – dessas quatorze totais, oito foram agraciadas de 1991 até 2015. Isso se deve também ao momento histórico moderno, pois, nas sociedades ocidentais, a mulher já ocupa inúmeros lugares que lhe seriam negados há algumas décadas – inclusive, na literatura.
Se formos falar de brasileiros, o quadro fica mais feio. Ainda nenhum autor tupiniquim alcançou a glória de um Nobel literário, por mais que se fale (mais fofocas dos velhinhos) que nomes como João Cabral de Melo Neto e Ariano Suassuna tenham sido cotados em anos anteriores. Entretanto, o Brasil tem ganhado espaço internacional em questões culturais, não só com música – o ritmo brasileiro é muito famoso nas terras gringas – mas também em termos literários. Inúmeros poetas brasileiros têm sido traduzidos mundo afora, como a mineira Ana Martins Marques, que já tem alguns poemas em italiano e espanhol.
Considerando a nacionalidade do continente, Lygia entra na tradição dos latino-americanos. Seis autores desse novo mundo foram reconhecidos pela Academia Sueca, porém, em sua maioria, homens. A única mulher nesse grupo seleto foi a chilena Gabriela Mistral (1889-1957), que venceu em 1945, “pela sua poesia lírica, que, inspirada por emoções poderosas, fez do seu nome um símbolo das aspirações idealistas de todo o mundo latinoamericano”.
Por fim, o que concluímos é que Lygia carrega não só o nome do Brasil, como também de outras duas minorias ignoradas pelas homenagens de alto escalão. E é isso que pode tornar a sua vitória um evento extremamente significativo – e político, claramente – nesse momento em que estamos vivendo. Em 2016, o mundo já está ouvindo mais a voz da mulher, do brasileiro, do latinoamericano. E, se o Nobel for tão inteligente como dizem, ele vai escolher um autor que traz consigo uma carga muito além da sua literatura: a ilustríssima Lygia Fagundes Telles.