Sexo com golfinho ou ‘Um gato chamado Borges’, de Vilto Reis

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Você já devia ter lido Um gato chamado Borges. Se ainda não leu, aqui vão uns bons motivos

Várias coisas vão te deixar confuso e te divertir durante a leitura do romance de estreia de Vilto Reis, mas, na minha opinião, nada vai ser tão intrigante como o alerta do início do romance. Veja a foto abaixo e compreende se for capaz.

Sim, há a cena de sexo com um golfinho. Não, talvez você nem perceba que está lendo a tal cena. Por quê? O romance trata de tantos temas e de forma às vezes realista, às vezes surreal que é difícil dizer exatamente o que está acontecendo.

Mas vamos por partes.

A trama principal é aparentemente simples. João Meireles se mudou para São Brandão, no litoral, para trabalhar como locutor de uma rádio de reggae. Sua vida dos sonhos parece estar se realizando até que, logo no primeiro dia, ele tem de noticiar um suicídio – mais um entre os muitos que ocorrem na cidade durante o inverno. Isso se repete todos os dias e começa a incomodá-lo. Além disso, a questão da morte de seus pais e o seu interesse pela causa das mortes fazem com que Meireles avance em um terreno pantanoso cheio de mentiras, lendas e um povo litorâneo nada amigável.

E onde o tal gato entra nisso?

Um gato chamado Borges, de Vilto Reis (Nocaute, 2016)

Bem, apenas lendo para compreender, pois seria um grande spoiler e teria que contar muito mais – e tirar toda a graça da leitura.

Escrito numa linguagem contemporânea e usando vários pontos de vista, Um gato chamado Borges mistura uma trama que agrada aos fãs de Jorge Luis Borges, reminiscências de Daniel Galera, tramas que se sobrepõem e a ela mesma na maior parte do tempo. Assim como João Meireles, o leitor se vê dragado pelos fatos e pelo ambiente hostil de São Brandão, suas mentiras e camadas que nunca ficam claras.

Duas coisas:

  • Se você gosta de uma boa história, esta não irá te decepcionar. A cada avanço dos protagonistas, perguntas são feitas e respostas são demandadas. A tensão e o suspense nunca findam e, de certa forma, ao terminar o livro, o leitor deverá completar algumas lacunas propositalmente feitas para tanto. A complexidade e o dinamismo de Um gato chamado Borges residem aí: levar a sério uma trama e um personagem que, aparentemente, não se levam a sério.
  • Se você gosta de uma literatura mais séria, cheia de técnicas e brincadeiras do tipo que Jorge Luis Borges ou Paul Auster criaram, este livro não vai te decepcionar. Os vários pontos de vista, temporais e narrativos, aliados às camadas que se sobrepõem e às vezes se contradizem, criam um amalgama complexo que engole a si mesmo. Não se preocupe caso chegue em determinado ponto da trama e seja engolido pelo labirinto (pessoal e dos fatos) junto a João Meireles. A ideia é esta.

E onde entra a relação sexual com o golfinho? Bem, apenas lendo para entender e encontrá-la.

Há ainda um último ponto importante. Este romance é a primeira publicação da Editora Nocaute. Comprando Um gato chamado Borges, além de ler um ótimo romance, também estará ajudando uma editora nacional nova com um proposta nova (para saber mais da proposta, clique aqui).

Ficou interessado? Então chegou a hora de ler Um gato chamado Borges.

O autor, Vilto Reis – também idealizador e editor do Homo Literatus

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