O que torna um livro caro

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Saiba quais são os fatores que acrescem o preço dos livros.

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Após a publicação do meu último texto, intitulado Clara Averbuck, Mercado Editorial e Editoras Más, recebi alguns e-mails de leitores perguntando como era possível que a produção de um livro, com uma tiragem de três mil exemplares, pudesse custar trinta e cinco mil reais. Recebi até mesmo alguns cálculos: dividindo trinta e cinco mil por três mil, o custo por exemplar seria de quase R$12. “Impossível em uma tiragem tão alta!”, bradaram alguns.

O raciocínio não está de todo errado, uma vez que, quanto mais exemplares são impressos, menor é seu custo unitário final, e quanto menos exemplares são impressos, maior é seu custo unitário final – esta é a regra básica de qualquer gráfica. Assim, o mesmo livro, com o mesmo número de páginas, pode custar R$20 a unidade, se você imprimir 30 livros, ou R$4 a unidade, se você imprimir 500 livros.

Assista ao vídeo que mostra como funciona o processo de impressão.

Porém, muitos detalhes podem tornar o preço final de um livro mais alto ou mais baixo, e aqui eu listo alguns deles:

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Ilustração

Oito em cada dez novos escritores sonham em ter seu livro totalmente ilustrado. “Pensei em uma ilustração por capítulo”, diz o autor de um livro com mais de cinquenta capítulos. Pois saibam que ilustradores também precisam comer e pagar aluguel, e por isso não costumam trabalhar de graça. O preço de uma única ilustração pode custar alguns mil reais, dependendo do ilustrador, mas posso garantir que nenhum ilustrará seu livro por menos de R$100 cada desenho. Assim, é só fazer a conta: um livro com vinte capítulos, contendo uma ilustração por capítulo, mais capa e quarta capa, temos um investimento de dois mil e duzentos reais APENAS em ilustração – e isso se você encontrar um profissional que lhe faça este trabalho por R$100 cada desenho, o que é difícil.

Pelo que entendi, o próximo livro da Clara Averbuck será todo ilustrado, o que justifica em partes um investimento final tão alto.

 

Capa dura

Este costuma ser o segundo sonho de todo novo autor. “Seria tão bacana se o livro tivesse capa dura, né?”. Sim, seria lindo. E seria caro também. Esta questão está diretamente ligada à gramatura do papel, isto é: quanto maior a gramatura (ou quanto mais grosso for o papel), mais caro os custos de impressão. Resumindo, é mais econômico imprimir em uma gramatura de 75g/m² do que em uma de 350 g/m². E conforme li na página da escritora no site Catarse, seu próximo livro sairá com capa dura.

 

Acabamentos de luxo

Qualquer detalhe mais elaborado na impressão de um livro aumenta o seu custo final. Verniz localizado na capa, gramatura e tipo de papel, detalhes coloridos no miolo, tudo isso deixa o livro esteticamente mais bonito. E mais caro.

 

Divulgação

Certamente um dos investimentos mais altos no processo de produção e lançamento de qualquer livro – e algo que todo novo autor costuma exigir de sua editora, geralmente por não saber do que está falando.

Existem muitas formas de divulgar um livro: através de anúncios publicitários, de matérias pagas, de parcerias com blogs e sites literários; através do aluguel de gôndolas e pontos de venda em livrarias, aquisição de stands de feiras literárias, através da contratação dos serviços de uma agência de propaganda. Aliás, quando você vê um determinado autor sendo capa do caderno de cultura de um jornal de grande circulação, ou ocupando muitas páginas de uma revista de renome, saiba: provavelmente foi pago. Tal autor não está lá só por que é melhor ou mais famoso do que você. Ele está lá por que sua editora, seu agente, ou ele próprio, pagou. Trata-se do famoso jabá. Todos precisam pagar se pretendem estar na capa do jornal, ou sentados no sofá do Jô Soares. Inclusive autores melhores e mais famosos que você.

 

Distribuição

Para que determinado livro esteja em destaque em todas as maiores livrarias do país, adivinha? Também precisa pagar. As livrarias alugam seus melhores espaços, suas melhores gôndolas, e seus melhores pontos de venda para quem pagar mais. Não é por acaso que o livro de um autor de uma grande editora está na vitrine das principais livrarias do país, enquanto estas mesmas livrarias sequer respondem seus e-mails, quando você entra em contato tentando enviar por consignação três exemplares de seu livro.

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Levando-se em conta que o livro Toureando o Diabo, cujos trinta e cinco mil necessários para seu lançamento foram levantados pela autora Clara Averbuck através do site Catarse, inclui capa dura, ilustração, distribuição e divulgação, é não somente possível, como provável, que ela precise destes trinta e cinco mil para lançá-lo – e sem tirar um centavo de lucro.

Pessoalmente, acho incríveis livros ilustrados, com capa dura, impressão colorida no miolo, papel especial e etc. Que editora, que leitor e que autor não quer ter em mãos um livro de encher os olhos, atrativo, chamativo, luxuosamente acabado? Todo mundo, é claro que sim.

Porém, enquanto editora, leitora e autora, não costumo me ater a estes detalhes que, em minha opinião, servem apenas para deixar o preço de um livro ainda mais alto. Os custos de produção de um livro padrão já são caros, e envolvem uma série de profissionais, geralmente tornando o preço final da obra alto para a editora, alto para o autor e, principalmente, alto para o leitor – especialmente quando falamos em tiragens pequenas.

Existem investimentos dos quais uma editora não pode abrir mão: revisão, diagramação, registros, impressão, e até divulgação. Mas existem outros investimentos que, se pararmos para analisar, não são indispensáveis.

Até mesmo por que, um livro ruim é um livro ruim, mesmo que tenha capa dura, ilustrações internas e externas, impressão colorida em papel de luxo.

E um livro bom é um livro bom, mesmo se for impresso num rolo de papel higiênico.

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