As Origens do Sadismo

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As obras de Marquês de Sade, em sua época moralista, foram consideradas escandalosas e transgressoras. Hoje, 200 anos após sua morte, as obras ainda são consideradas fortes.

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Marquês de Sade

O termo sadismo ficou conhecido, no senso comum, como sinônimo de crueldade. Sádico é aquele indivíduo que sente prazer com a dor alheia. A origem do termo é literária, uma singela homenagem ao autor Marquês de Sade, que viveu no século XVIII e ficou conhecido por sua obra polêmica. Se até para os dias de hoje as produções de Sade podem ser consideradas fortes, para aquela época moralista era um verdadeiro escândalo. Cenas de tortura, incesto, traições, assassinatos, mentiras e jogos de interesse eram temas comuns do escritor francês.

Toda essa exposição crua dos vícios humanos funcionava, na realidade, como denúncia. Segundo o próprio Sade, em seu texto crítico Nota sobre Romances ou A Arte de Escrever a Gosto do Público, do livro Os crimes do amor, a arte retrata o caráter humano, seu lado bom e ruim. E seria mais interessante ficcionalmente fazer o vício triunfar do que a virtude. Isso por duas razões: primeiro porque provoca o efeito imediato de catarse no leitor, e segundo porque mostra o absurdo da inversão de valores na sociedade. Dessa maneira, o sadismo precisa ser exposto para ser compreendido e combatido. Parece um tema bastante atual, com personagens como bandidos e psicopatas em voga, além de anti-heróis e vilões populares. Confira alguns trechos da análise teórica de Sade para compreender melhor suas ideias:

“O conhecimento mais essencial que o romance exige é, certamente, o do coração do homem.”

“Não quero que se ame o vício; não tenho, como Crébillon e Dorat, o perigoso projeto de fazer com que as mulheres gostem dos personagens que as enganam; quero, ao contrário, que os detestem. É o único meio que pode impedi-las de se tornarem vítimas e, para ter êxito nisso, mostrei aqueles meus heróis que seguem a carreira do vício de um modo tão assustador, que certamente não inspirarão nem pena, nem amor. Com isso, ouso dizer, torno-me mais moral do que aqueles que se permitiram embelezá-los […]”

“Nunca, repito, nunca pintarei o crime senão com as cores do inferno; quero que o vejam a nu, que o temam, que o detestem, e não conheço outro modo de fazê-lo senão mostrando-o com todo horror que o caracteriza.”

Seja como for, personagens sádicos sempre dão o que falar e podem render ótimas histórias.

 

Referência:

SADE, Marquês de. Nota Sobre Romance ou A Arte de Escrever ao Gosto do Público. In:______. Os crimes de amor. Porto Alegre: L&PM, 2002.

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