Resenha: O livro do chá – Kakuzo Okakura

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Certamente, quando você leu o anúncio que o Vilto Reis publicou no Homo Literatus a resenha de O Livro do Chá, de Kakuzo Okakura, deve ter se feito uma série de perguntas e considerações:

– Mas o site não era só sobre literatura?
– Bem que tava faltando alguma coisa oriental.
– Ishi, vamos falar de chá agora?
– O Vilto deve estar cortejando uma velhinha, no estilo Don Juan de olhos puxados!

Primeiro, não, eu não estou a fim de nenhuma velhinha, ultimamente ando mais para celibatário ou para uma vida monástica mesmo; mas não é esta a nossa conexão com o livro em questão. Segundo, dê-me uma chance para lhe falar sobre este verdadeiro tratado sobre a cultura oriental.

O Livro do Chá, publicado em 1906, representa de uma forma filósofo-poética uma espécie de análise antropológica da cultura oriental, a partir do que o autor brinca ao chamar de “chaísmo”; ensaio este com o intuito de apresentar aos ocidentais a importância deste cerimonial.

O “chaísmo” é um culto que se fundamenta na veneração da beleza em meio à sordidez dos acontecimentos diários. Incute a pureza e a harmonia, o mistério da caridade mútua, o romantismo da ordem social. É essencialmente a veneração do imperfeito, uma tentativa singela de conquistar o possível em meio a esta coisa impossível que chamamos de vida.

Okakura não se restringe a abordar o assunto da cerimônia do chá (Chanoyu),mas aprofunda sua análise, levando em conta o aspecto histórico; principalmente, no que tange ao fato de tradição ter vindo da China, porém a partir do século XVI, ter continuado a se desenvolver apenas no Japão. O autor dá destaque à importância do chá, desde o primeiro capítulo – A xícara da humanidade -, onde aborda o quanto em tempos modernos, precisamos desta cerimônia. Partindo após esta abertura para temas como: as escolas do chá; o taoismo e o zen; e o aposento da cerimônia do chá; o autor dá uma noção exata da relação íntima dos japoneses com esta prática cotidiana, deixando um vazio no leitor ocidental que anseia fazer parte desta tradição.

No líquido ambarino contido em porcelana marfínea, o iniciado é capaz de tocar a doce reticência de Confúcio, a malícia de Lao-tsé e o aroma etéreo do próprio Sakyamuni.

A partir daí,  Okakura fala da apreciação da arte e dedica um capítulo especial sobre as flores, onde abre com o poético trecho: “No tremular cinzento de uma madrugada de primavera, quando pássaros sussurram em misteriosa cadência no arvoredo, você nunca sentiu que eles falam de flores aos companheiros? Para a humanidade, a apreciação das flores foi sem dúvida contemporânea dos poemas de amor…”.

Para finalizar, afirmo, sem sombras de dúvidas, que é uma leitura incrível; de paz e satisfação únicas. Vou comprar um exemplar para tê-lo em casa e poder consultá-lo sempre que sentir saudade; além de ter me despertado para algumas ideias ficcionais.

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