Resenha: O Marido Perfeito Mora ao Lado – Felipe Pena

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Se você é do tipo “machão”, não feche o livro por causa do título; estamos falando de ficção policial.

“Se o outro é teu inferno, o que ele conta é uma versão de como se chegou lá”. (pg. 15)

Após a gravação do LiteratusCast 009 – Geração Subzero, Entrevistando Felipe Pena e a leitura de Fábrica de Diplomas, eu não poderia deixar de ler o segundo livro do que o autor chama de a “Trilogia do Campi”.

Em O Marido Perfeito Mora ao Lado, publicado pela Editora Record, o leitor é apresentado já no prólogo a um dos pilares temáticos do livro, a psicologia, pois Olga conta à terapeuta a situação do casal, enquanto Carlinho não fala em momento algum. Esta narrativa em primeira pessoa, em linguagem coloquial, segue o livro todo, aparecendo em capítulos nos entremeios da narrativa principal, fazendo com que o leitor fique procurando qual a associação; sendo a resposta oferecida apenas no final da obra. Mas não só deste mistério vive o livro de Pena, aliás o que acontece no plano principal da história é bem mais amplo; um sequestro quando o aluno Marcus está chegando à o_marido_perfeito_mora_ao_ladoUniversidade Anglicana, na qual estuda. O curso de psicologia, frequentado pelo aluno, tem como diretor Antônio Pastoriza, o protagonista do romance Fábrica de Diplomas, que recém-assumido o cargo, precisa lidar com esta situação. A tensão se instaura no ambiente, desde o grupo de estudo ao qual Marcus frequentava – junto com outras quatro estudantes, Raquel, Samantha, Caren e Nicole, sua namorada; e orientado pela professora Jurema –; alcançando toda a universidade; o pai do aluno sequestrado, Arlindo, um rico empresário; e caindo nos braços da mídia, sempre pronta a “sensacionalizar” ainda mais a questão. Pastoriza vai de encontro ao Delegado Rogério, seu amigo de infância, no entanto, as opiniões sobre o caso sempre divergem; o que permite ao leitor uma expansão das próprias possibilidades de quem ele acredita ser o autor do sequestro.

Como todo o bom livro policial, o melhor fica para o fim; e a resolução do caso mantém o mesmo nível em que a trama se desenvolve, surpreendendo a cada página.

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Quem me acompanha aqui no Homo Literatus sabe que não sou um “grande leitor” de ficção policial, o que pode levar vocês a se questionarem por que gostei deste livro. Em resposta, afirmo que por ele trazer “um algo a mais” em seu composto. Por exemplo, na pág. 110, Felipe Pena cita Nietzsche, Foucault e Sócrates, numa reflexão de Antônio Pastoriza sobre nosso modelo pedagógico. O ponto ressaltado pode tanto atrair como afastar leitores, pois nomes como os citados, costumam remeter a aulas herméticas, trazendo à memória professores enojados das condições de sua profissão, portanto, empurrando a matéria para os alunos. O que Pena coloca em seus livros é uma mistura de conteúdo clássico com cotidiano; se há filosofia, que esteja ali para todos entenderem; e o mesmo com a psicologia. Eu que na área acadêmica estudo comunicação, senti-me a vontade para entender os conceitos ensinados no livro – agora vocês podem me perguntar a diferença entre um esquizofrênico e um psicótico –; mas tudo isso sem se utilizar de uma fórmula maçante; e sim de um jeito a encaixar com a trama.

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Os pontos que mais me agradam no livro são: o ritmo e as viradas da trama. Ler trezentas páginas nunca foi tão fácil, divertido e instrutivo.

Sinceramente, eu não o teria lido pelo título, mas vale uma ressalva, pois o objetivo do autor parece ser a busca de um público que ainda não está “comprometido com a literatura”; e que não precisa dela para autoafirmar seu eruditismo; então não julgue o livro pelo título. Leia-o.

 

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