Cristovão Tezza: sobre escritores paranaenses, solidão e autoajuda

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Na 10ª Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu, o autor do premiado O Filho Eterno fala sobre os escritores e a literatura paranaense, sobre a solidão e sobre a leitura da autoajuda.

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O escritor Cristóvão Tezza, nascido em Lages – SC, mas que se mudou aos oito anos de idade para Curitiba e ali ficou, deixando claro seu amor pela cidade, além de ser um excepcional romancista, professor de Linguística na Universidade Federal do Paraná e Doutor em Literatura Brasileira não deixou nada a desejar em sua participação na 10ª Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu. Em uma roda de conversa sobre literatura e escritores paranaenses Tezza mostrou-se simpático e aberto as críticas feitas pelo público presente.

Dentre muitos temas abordados foi questionado qual seria a definição de literatura do Paraná hoje em dia, tendo em vista tantos nomes consagrados e conhecidos pelo país e fora dele. Segue a resposta do escritor referente à questão:

“[…] a minha impressão é que o autor paranaense tem muitos focos, Curitiba é um caso a parte, marcante, com alguns traços muito específicos dados pela cidade […] em um tempo aonde todos os escritores iam para Rio/São Paulo, não tinha salvação […] talvez Dalton Trevisan seja o único caso daquela geração de alguém que não foi morar no Rio de Janeiro, principalmente no Rio, para se promover nacionalmente […]. O curitibano não sai, uma vez me disseram que talvez eu seja o único cara da minha geração que continuou em Curitiba enquanto todo mundo foi parar em São Paulo e Rio […]. Eu acho que muito de Curitiba, da atmosfera curitibana como um contraponto ao Brasil, no caso das especificidades da cidade, uma certa atmosfera presente na obra do Dalton, existe uma grande preocupação formal que às vezes é um certo provincianismo, a ideia de ser diferente como uma maneira de você sair da própria aldeia […]. Pode-se dizer hoje que o Paraná pode ser visto através de sua literatura, […] o Estado aparece na literatura como referência nacional.”

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Quanto ao aparecimento das novas mídias de comunicação, acesso a internet e a constância das pessoas em estarem a todo o momento conectadas, Tezza diz:

“[…] de repente todo mundo tem que escrever no teclado, e todo mundo tem que ler, não tem uma página na internet que não tenha coisa escrita pra vocês ler, […] ela exigiu um tipo de sofisticação de mão de obra […] todo mundo precisa escrever e ler. A palavra escrita voltou a ser uma referência absolutamente fundamental na vida das pessoas. […] Claro que ao mesmo tempo que existem pessoas que não leem nada e não escrevem nada, você tem blogs sofisticados, todos os jornais estão na internet instantaneamente no mundo inteiro, uns pagos outros não, o acesso que você tem a informação escrita é incontável, um negócio louco. Hoje você compra e lê aquilo que você quiser. A palavra escrita entrou brutalmente na vida das pessoas. […] Hoje em dia você pode escrever e no mesmo instante já joga no Facebook e mil pessoas já irão ler, é instantâneo esse processo. E pode ser angustiante, um milhão de blogs e nenhum comentário, aquele desespero da solidão.”

Foi perguntado a Tezza o motivo da necessidade de isolamento do escritor em seu processo criativo e a visão dele referente à grande demanda de leitura designada autoajuda, veja o que o escritor fala:

“Sobre a solidão, por quê as pessoas escrevem? Por que são infelizes, o que leva a gente a escrever é a infelicidade. Porque pessoas felizes não escrevem, ela vão ao cinema, namoram […] o infeliz é aquele que se esconde, se tranca no quarto e fica escrevendo, então é um processo de infelicidade. […] A literatura é um processo de produção muito solitária. […] Quanto a autoajuda isso é um fenômeno, um manual de palavras que te disse o que e como você deve fazer, mas como você bem disse isso não é literatura.”

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