Truman Capote, forma e técnica do conto

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Em entrevista à revista The Paris Review, no ano de 1957, o badalado escritor Truman Capote falou sobre “forma e técnica do conto”. Seu modo de pensar, simples e direto, se reflete nas respostas concedidas.

Autor de contos, romances e peças teatrais, sua obra mais famosa é A Sangue Frio, definido pelo autor como um “romance de não-ficção”. Mas na narrativa curta, no conto, mais precisamente, o escritor não deixava por menos, sendo que o seu primeiro trabalho publicado, Miriam, venceu um prêmio de melhor conto inédito.

Capote e seu cão
Capote e seu cão

Vale a pena ler o fragmento desta entrevista e conferir o que Capote sobre o conto:

Qual foi a primeira coisa que você escreveu?

Contos. E as minhas mais desaforadas ambições ainda giram ao redor deste gênero. Me parece que quando é explorado com seriedade, o conto é a forma mais difícil de ser escrita, e a que exige maior disciplina. Todo o controle e a técnica que tenho devo completamente a minha experiência com este meio de comunicação.

A que se refere exatamente ao dizer “controle”?

Me refiro a manter uma proeminência estilística e emocional sobre o material. Chamá-lo algo precioso e esquecê-lo, mas acredito que um conto pode fundir-se com um ritmo inadequado em uma frase – especialmente se se apresenta no final – ou por um erro na organização dos parágrafos, ou inclusive da pontuação. Henry James é o maestro do ponto e vírgula. Hemingway é um organizador de parágrafos de primeira classe. Do ponto de vista do ouvido, Virginia Woolf não escreveu uma frase má. Não quero dizer que pratico o que prego. Só tento fazê-lo, isso é tudo.

Truman Capote em Paris (1966)
Truman Capote em Paris (1966)

Como prepara a técnica para um conto?

Posto que cada conto apresenta seus próprios problemas técnicos, obviamente não se podem fazer generalizações ao estilo dois-e-dois-são-quatro. Para encontrar a forma adequada para teu conto, simplesmente tens que descobrir a forma mais natural para contar a história. A forma de comprovar se o escritor adivinhou a forma mais natural para contar sua história é a seguinte: depois de lê-la, podes imaginar de maneira diferente, ou bem silencia tua imaginação e te parece absoluta e final? Da mesma maneira como uma laranja é algo definitivo. Da mesma maneira como uma laranja é algo que a natureza há feito simplesmente bem.

Há recursos para melhorar a própria técnica de escrita?

O único recurso que conheço é o trabalho. Escrever tem leis de perspectiva, de luz e sombra, igual a pintura ou a música. Se nasces conhecendo-as, perfeito. Se não, aprende-as. E então reacomoda as regras para que se adaptem a ti. Inclusive Joyce, nosso mais extremo inconforme, era um esplêndido artesão; e pode escrever Ulysses precisamente porque pode escrever Dublinenses. Muitos escritores parecem considerar que escrever contos é uma espécie de exercício com os dedos. Bom, em tais casos o único que fazem é exercitar seus dedos…

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