21 Romances do século XXI

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Romances de escritores brasileiros publicados a partir de 1 de janeiro de 2001

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Sim, listas são subjetivas. Eu concordo com você. Já começo me explicando, assim o leitor sai de cara sabendo que também acho a maioria delas injusta. Figurões que talvez não sejam tão importantes acabam aparecendo em listas feitas a rodo por tantos outros sites, revistas, portais, blogs etc., seja o conteúdo relacionado à literatura, novela, música, jogador de futebol ou algo que se aproxime. Muitas vezes se dá o processo inverso: grandes nomes acabam sendo esquecidos por um ou outro elaborador dessas listas, que, para fazê-las, sempre segue algum critério (ou critérios) definido (s) por uma pessoa ou por uma equipe. Em outras palavras, elas são sempre polêmicas! Quem nunca se indignou por seu livro, banda, música, time não entraram na lista dos melhores?

Afinal, porque então fazê-las? A popularização das listas é um fenômeno que deriva de um cânone (evidentemente não estou falando de santos canonizados pela igreja). Pois é, a literatura também tem seu cânone, composto de escritores que chamamos de clássicos. Ultimamente, tem se combatido muito a ideia de cânone, afirmando e provando sua limitação e, em muitos casos, preconceitos em relação a certas obras, que foram preteridas. Isso já até virou disco quebrado. Pois bem, na tentativa de descontruir um cânone, acabou-se criando outros cânones. Ao invés de falarmos somente das grandes obras da literatura brasileira, podemos falar dos grandes escritores regionalistas, ou da literatura memorialista, ou de escrita feminina, ou homoafetiva, ou de negros, ou do que mais você quiser. O grande cânone agora está fragmentado (êta pós-modernidade, não poupa nada), e temos uma pluralização de cânones.

Felizmente ou infelizmente ele está aí. As listas seguem no mesmo caminho. Justas ou não, fazem com que a gente tenha pelo menos um norte na hora de escolher uma leitura. Talvez você se pergunte: “Poxa, será que estão escrevendo alguma coisa interessante lá no Acre? E em Pernambuco? Tem alguém escrevendo literatura no interior do Paraná?” Lá vem o cânone e as listas para nos ajudarem a ter uma noção do que está acontecendo, ou do que aconteceu aqui e acolá.

Há sempre um fado que o literato terá de levar: tão longa biblioteca, tão curta vida. Selecionar as próprias leituras é uma espécie de cânone, uma espécie de lista. Uma lista pessoal e até mesmo intransferível. Eis a razão de ainda se continuar a fazer listas. Por isso decidi fazer uma aqui. Não tenho pretensão de achar que você concorde com todos os nomes, pois como disse, listas são listas. O intuito aqui é de tentar mapear bons livros e bons escritores desse novo século. A minha escolha se deu segundo os seguintes critérios:

  • Romances de escritores brasileiros publicados a partir de 1 de janeiro de 2001;
  • Um romance por escritor;
  • Temática e estilos livres;
  • Livros que eu, obviamente, tenha lido.
  • Não são livros que eu necessariamente tenha gostado. Alguns estão por terem ganhado prêmios, ou vendido bem, ou mesmo feito fama aí pela internet.
  • Ordem de classificação aleatória.

Acredito que estamos vivendo um dos momentos mais frutificantes da literatura brasileira, com uma qualidade e diversidade muito interessantes. Mas isso fica para um outro post. Boa leitura!

 

1. Eles Eram Muitos Cavalos, de Luiz Ruffato

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Luiz Ruffato

Romance de fragmentação extrema. O autor mineiro retrata um dia na vida de uma grande metrópole como São Paulo. O livro tem 69 episódios com protagonistas diferentes, estilo próprio, numa fusão entre poesia, publicidade, senso comum, prosa, musicalidade etc. A narrativa passa longe de ser linear. É completamente entrecortada, onde várias vozes se alternam.

2. Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios, de Marçal Aquino

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Marçal Aquino

Poético, trágico e no limitar entre o belo e o clichê: eis o romance mais famoso do jornalista, escritor e roteirista Marçal Aquino. Cauby, narrador em primeira pessoa, é um fotógrafo que vai para o interior do Pará durante uma corrida do ouro para fotografar prostitutas. Conhece Lavínia, mulher do pastor da cidade. O amor enlouquecido que Cauby sente pela jovem de personalidade dupla o conduz a perigos imensos. Triste e belíssimo.

3. K – Relato de uma busca, de Bernardo Kucinski

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Bernardo Kucinski | Foto: Felipe Hanower / Agência O Globo

O narrador nomeado K sai em busca do paradeiro da filha Ana Rosa Kucinski Silva, sua filha provavelmente presa e morta pela ditadura militar. Romance envolto em contornos autobiográficos, Bernardo Kucinski possuiu uma irmã com esse mesmo nome, que era militante anti-ditadura e que desapareceu nos anos de chumbo no Brasil.

4. Nove Noites, de Bernardo Carvalho

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Bernardo Carvalho | Foto: Bruno Poletti / Folhapress

É um romance histórico sobre Buell Quinn, americano que se matou aos vinte e sete anos de idade no interior do Brasil. Buell era antropólogo e estuda as comunidades indígenas no Tocantins. Seu suicídio não parece ter motivos aparentes, o que parece ser uma atitude impensada e impulsiva de Quinn. O narrador se torna obcecado pela história e tenta reconstruir a partir de documentos, entrevistas, cartas e outros textos a realidade na qual o americano se suicidou para tentar descobrir o mistério que ronda sua morte.

5. Budapeste, de Chico Buarque

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Chico Buarque

Romance mais famoso do ícone da música popular brasileira, Budapeste conta a história de José Costa, ghost-writer que fica preso na capital húngara após uma ameaça de bomba em seu avião. Costa, que é casado com Vanda, acaba se relacionando com Kriska, com quem aprende húngaro. Por idas e vindas entre Budapeste e Rio de Janeiro, o escritor faz uma bela narrativa que se reflete em outra.

6. O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli

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Lourenço Mutarelli

O protagonista Lourenço mora em São Paulo e se dedica ao ofício da compra e venda de objetos antigos. Ele se torna um comerciante frio e explorador das pessoas que o procuram por estarem desesperadas por dinheiro. Paga pouco e despreza objetos de valor sentimental. Do ralo de seu banheiro há um cheiro que o incomoda, contra o qual luta e não consegue vencer. Suas relações são baseadas no dinheiro e há reviravoltas em seu ofício, sobretudo em relação aos clientes. A atmosfera noir que tanto se fez presente nos quadrinhos do autor também está presente no seu romance mais famoso. Virou filme anos depois de sua publicação, com direção de Heitor Dhalia e atuação de Selton Melo no papel principal.

7. Lugar, de Reni Adriano

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Reni Adriano

Lugar é o primeiro romance do escritor mineiro Reni Adriano, lançado no ano de 2010 e ganhador do Prêmio Governo de Minas Gerais em 2009. O livro desafia por se tratar de um texto verborrágico, no qual os sentimentos mais profundos vêm à tona por meio de uma construção frasal ímpar e uma estética própria, tocando os limites da narrativa com uma fortíssima dose de lirismo. O menino Inácio é o protagonista da história que tem o seu avô Gaio como pivô de muitas histórias que acontecem no vilarejo, povoado de elementos fantásticos.

8. Nihonjin, de Oscar Nakasato

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Oscar Nakasato

O livro, que tem uma linguagem direta, sem rodeios nem experimentalismos, conta, sobretudo, a história de Hideo Inabata e a luta dos japoneses para se “adaptarem” às terras brasileiras. Um romance muito bem estruturado cujos capítulos podem ser lidos em forma de contos. O autor mostrará ao passar das linhas que esse desenraizar-se, diferentemente de imigrantes de outras nações, não foi algo tão simples para os japoneses.

9. Sinfonia em Branco, de Adriana Lisboa

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Adriana Lisboa

As irmãs Maria Inês e Clarice são as protagonistas desse romance que envolve dramas familiares, silêncio e trauma. O romance baseado na memória é poético em muitos trechos. Detalhes são ocultos e revelados a medida que a história ganha corpo e segredos sendo revelados. Fragmentado e não linear o romance é sintomático no que tange as relações pessoais e tentativa de superação – sem a pieguice de autoajuda.

10.  A Maquina de Madeira, de Miguel Sanches Neto

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Miguel Sanches Neto

O escritor paranaense Miguel Sanches Neto constrói uma bela narrativa ambientada no Brasil império, onde muitas vozes ufanistas se levantavam para louvar as terras tupiniquins, tentando apagar as mazelas sociais e fingindo a distância que separava o jovem país que há pouco se libertara da metrópole e deixara de ser colônia. Dono de uma escrita seca e objetiva, Sanches Neto coloca como personagem principal desse romance histórico um personagem ímpar, Francisco João de Azevedo Filho, sacerdote que estudou e atua em Recife, mas nascido em João Pessoa na Paraíba, filho de um contraditório açoriano, combatente de uma milícia que lutava contra os estrangeiros que vinham para o Brasil, enriqueciam e depois deixavam nossas terras.

11.  As Fantasias Eletivas, de Carlos Henrique Schroeder

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Carlos Henrique Schroeder

O protagonista Renê é funcionário de um hotel em Balneário Camboriú. Mora sozinho e tem uma vida rotineira, até fazer a amizade com o travesti Copi, que também é fotógrafo. A narrativa é extremamente fragmentada e mais faz sugestão de acontecimentos do que propriamente narra as desventuras da personagem. Romance que flerta com a fotografia (há uma exposição de fotos dentro do romance), o livro do escritor catarinense é deveras inovador e corajoso.

12. Todos Nós Adorávamos Cowboys, de Carol Bensimon

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Carol Bensimon

Romance mais recente da gaúcha, mestre em Teoria Literária. O romance é uma espécie de road novel pelo interior do Rio Grande do Sul, em uma busca de reconhecer a própria terra, enquanto se reconhecem a si mesmas, seu lugar no mundo, sua sexualidade etc.

13. O Filho Eterno, de Cristóvão Tezza

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Cristovão Tezza

O narrador/protagonista também é um escritor que, em meados dos anos oitenta, ainda é um escritor sem muito sucesso, que tem um filho com síndrome de down. Aclamado por muitos e criticados por outros com o argumento de ser oportunista, o romance está longe de oferecer uma saída fácil para o leitor que espera uma espécie de autoajuda e superação.

14. O Evangelho Segundo Hitler, de Marcos Peres

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Marcos Peres

Ao mesmo tempo em que trabalha com um escritor que é considerado produtor de alta literatura – o verdadeiro Jorge Luís Borges também aparece como personagem –, o romance flerta com o mais popularesco dos gêneros: o romance policial, com intrigas, perseguições, teorias conspiratórias etc, em um estilo não muito diferente de um Dan Brown ou um Umberto Eco. Peres consegue ficar no limiar entre uma alta literatura e a cultura de massa, numa espécie de pastiche com enredo alucinante cheio de ironia e digressões.

15. Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum

Milton Hatoum
Milton Hatoum

No melhor estilo memorialista de Milton Hatoum, esse livro que contém pouco mais de uma centena de páginas se passa também no Amazonas. Arminto Cordovil, protagonista, vive em uma cidade à beira do rio Amazonas. Pobre e sem perspectivas, ele começa a lembrar de sua história de amor com Dinaura, bem como a saga de sua família, da bonança à bancarrota. É um personagem solitário e saudosista de uma região vendida como um lugar tal qual a lenda de Eldorado.

16. Mínimos, Múltiplos, Comuns, de João Gilberto Noll

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João Gilberto Noll

É um texto desafiador, sobretudo quando se tenta classificá-lo. Entre 1998 e 2001, o escritor gaúcho escreveu 338 mini-narrativas que foram publicadas na sua coluna na Folha de São Paulo. Inicialmente, os textos podem ser classificados como contos ou mesmo crônicas em alguns casos. Porém, aos serem coletados, esses textos foram abrigados em um livro que traz como paratexto a palavra romance no prefácio da obra. Afinal, seriam contos breves ou um romance fragmentado? Carelli, organizador da obra, após dividir os textos em cinco conjuntos (Gênese, Os elementos, As criaturas, O mundo e O Retorno) afirma que o mais adequado seria definir esses relatos como romances integrais, reduzidos a seu mínimo enunciado formal

17.  Se Eu Fechar os Olhos Agora, de Edney Silvestre

Edney Silvestre
Edney Silvestre

Nos anos 1960, dois pré-adolescentes encontram o corpo de uma mulher às margens de um lago de uma cidade do interior do Rio de Janeiro. Ajudados por um velho que mora no asilo da cidade, os meninos começam uma investigação para descobrirem o assassino. Porém, nessa tentativa de descobrir os mistérios que rondam a trágica morte da mulher, os protagonistas enfrentam pessoas poderosas que querem esconder o que aconteceu. Nesses jogos de poder, eles devem enfrentar uma passagem nada fácil à vida adulta.

18. Barba Ensopada de Sangue, de Daniel Galera

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Daniel Galera

Um professor de educação física se refugia em Garopaba, no litoral catarinense após o suicídio do pai. Ele se isola do resto da família, sobretudo do irmão, que se casou com sua antiga namorada. Na tentativa de se redescobrir, o protagonista se torna obcecado pela história de seu avô, que teria vivido em Garopaba, muitos anos antes, onde foi assassinado.

19. Ribamar, de José Castello

José Castello
José Castello

Um misto de elegia e epitáfio, com partituras a permear os breves capítulos, Ribamar é uma bela invocação do narrador ao pai morto. Ele retoma alguns pontos da relação com o progenitor, a relação difícil entre eles, e o silêncio que imperava em casa. Escrito em capítulos curtos, como uma espécie de memória fragmentada em relação ao pai e que tenta se reconstruir ficcionalmente.

20. De Cada Amor Tu Herdarás Só o Cinismo, de Arthur Dapieve

Arthur Dapieve
Arthur Dapieve

O único romance do jornalista carioca, que é biógrafo de figuras do rock brasileiro, foi tirado de uma das canções mais famosas do sambista Cartola. Dino, quarenta e tantos, fã de rock clássico, conhece, em um show, Adelaide, uma ninfeta ruiva que vai bagunçar sua vida. Romance na esteira da obra máxima de Nabokov.

21. Fé na Estrada, de Dodô Azevedo

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Dodô Azevedo

Único livro de ficção do colunista do G1, é outro daqueles livros que brincam de estar no limiar entre ficção e biografia. O romance é narrado por Dodô, fã da geração beat. O protagonista faz uma viagem aos Estados Unidos, pegando carona, acampando e pegando pequenos trabalhos, para tentar encontrar alguma sombra do humanismo beat, em meio ao governo George W. Bush.

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