O fotógrafo João Pedro Rocha dá visibilidade aos invisíveis nas paisagens urbanas de São Paulo, por meio de sua fotografia de rua.
Fotografando invisíveis
Palco de arte, a cidade de São Paulo já foi retratada por músicas de Criolo como um lugar em que falta amor – em Não Existe Amor em SP – e contemplada diversas vezes por Tom Zé, em músicas como Augusta, Angélica e Consolação.
O fotógrafo João Pedro Rocha, 27 anos, criou em 2018 o projeto Cidade Cinza para fotografar quem passa despercebido nessa metrópole: “O meu estilo é fotografar aquilo que a galera não quer ver”.
Cidade Cinza
Em Cidade Cinza, a câmera de João Pedro atua como um observador distante, mas atento. A escolha do preto e branco converge com a fama cinzenta da maior cidade do país. As linhas das janelas dos edifícios, o trânsito e o padrão das calçadas são o entorno urbano que emoldura os personagens das fotografias, sempre retratados como o foco de cada imagem.
A vista da janela
Como um ponto estático, João Pedro também fotografa a vista de sua janela, em um apartamento na Santa Efigênia. “Eu nunca morei numa rua tão caótica igual a que estou morando hoje”. O fotógrafo se apoia na janela e observa com sua câmera Canon T3i na mão, durante o dia e durante a noite. “Estou tentando mostrar as duas ruas em uma só”.
São registrados conflitos de trânsito, a solidão, e festas que acontecem na calçada. De dia, são trabalhadores transitando pela rua; de noite, ela é frequentada por pessoas em situação de rua, por vezes discutindo e falando alto.
Registro do choque cultural
O projeto nasceu quando o carioca João Pedro sentiu o choque cultural ao se mudar para São Paulo e decidiu utilizar suas lentes para mostrar o que, segundo ele, é abafado pelo cotidiano: “Eu tento meio que chocar a galera, seja quem sabe que existe, mas finge que não vê, desde quem nunca viu o que está acontecendo”.
Da zona mais rica à mais pobre
João Pedro fotografa quase diariamente, a caminho do trabalho, da janela de casa, em passeios sozinhos pela cidade, pelo centro da cidade ao redor da Galeria do Rock.
Grandes eventos e mobilizações, como o Carnaval e protestos, são o alvo de suas fotografias: “Quero mostrar para todo mundo, desde que seja alguém que mora na zona, a mais rica de São Paulo, até a zona mais pobre”.
Fotos de protestos
Em protestos, João Pedro busca focar nos rostos dos protestantes, “Eu gosto muito de pegar as expressões das pessoas, seja as expressões de medo ou de raiva”. Seu enfoque é nos contrastes e diferentes grupos que frequentam a mesma manifestação – de crianças com cartazes até ativistas mascarados.
A montagem de fotografias sobre protestos é feita sob a lógica de começar com trechos mais leves até o possível caos de final de manifestações, acompanhando a evolução do sentimento que motiva o protesto incialmente.
Arte marginalizada
Fotografando, ele começou a perceber a cidade de uma maneira diferente. João Pedro acredita que a fotografia de rua ainda não é reconhecida pelo seu papel cultural: “A galera sempre trata o que vem da rua como algo temporário, algo como hobby. Tudo que vem da rua é tratado como marginalizado – grafite, pixação, skate…”.
Uma nova percepção da cidade
Seu processo de fotografar é resultado do hábito de observação, de uma busca por retratar o que de fato acontece, algo que só pode ser feito por quem vive presencialmente a cidade, 24 horas por dia: “Muitos moradores de rua se sentem invisíveis. Quando você os fotografa, tem que ter muita sensibilidade.” Por meio da fotografia, ele começou a perceber a cidade de uma maneira diferente, como um artifício para se aproximar e criar relações com as pessoas do seu bairro.
Referência
Perfil do fotógrafo na rede social Instagram: @cidadecinza23
Observação do Editor-chefe
Todas as fotografias escolhidas a dedo pela autora desta matéria foram numeradas pela Edição do site conforme a ordem de sua apresentação na matéria. Isso se dá porque o fotógrafo não lhes atribuiu nome ou designação nesse sentido, tendo feito posts na rede social Instagram com frases de efeito.
Créditos Homo Literatus
O texto acima é de autoria de Emanuela Vieira, colaboradora fixa do Homo Literatus. A revisão é de Raphael Alves. A edição é de Nicole Ayres (Editora assistente do Homo Literatus), com observação e retoques finais de Mario Filipe Cavalcanti (Editor-chefe).