Cordéis sobre heroínas negras brasileiras que fizeram história

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Cordéis sobre heroínas negras brasileiras que fizeram história
Jarris Arraes, uma das heroínas negras brasileiras

Em Heroínas Negras Brasileiras: em 15 Cordéis, Jarid Arraes mantém viva a história de mulheres negras que são verdadeiros exemplos de força e bravura

Jarris Arraes, uma das heroínas negras brasileiras

Jarid Arraes é uma jovem escritora, nascida em Juazeiro do Norte, na região do Cariri (CE), que tem de ser conhecida por todos. A escritora e cordelista tem buscado em seus escritos dar vez e voz para as mulheres negras.

Desde 2012, Jarid tem se dedicado a estudar a história de mulheres negras que fizeram a história do Brasil, mas que foram excluídas dos livros didáticos e das aulas nas escolas. Esse seu trabalho deu origem ao belíssimo livro Heroínas Negras Brasileiras: em 15 Cordéis (2017), publicado pela editora Pólen.

 

Sobre os cordéis de Jarid Arraes

Não se contentando em apenas estudar sobre as vivências de mulheres negras que fizeram a história do Brasil, Jarid Arraes sentiu que era necessário tornar mais acessível a história dessas fortes mulheres, para que todos possam conhecê-las também, pois somente assim suas vozes deixariam de ser abafadas e excluídas da história dita oficial de nosso país.

Heroínas Negras Brasileiras: em 15 Cordéis é um livro sobre mulheres negras que lutaram, cada uma a seu modo, contra a escravidão e contra o racismo, em busca da liberdade, não só pela liberdade delas mesmas, mas também de seus povos. Para contar essas histórias, Jarid escreve uma literatura de cordel, com uma linguagem poética e tipicamente brasileira. Isto podemos observar abaixo, no trecho de um cordel sobre Maria Felipa, marisqueira e pescadora que liderou batalhas contra portugueses.

Esquecidas da História
As mulheres inda estão
Sendo negras, só piora
Esse quadro de exclusão
Sobre elas não se grava
Nem se faz uma menção.
(ARRAES, 2017, p. 97)

 

As histórias das heroínas

Muitas são as heroínas representadas por Jarid Arraes por meio de seus cordéis. Ao contar a história de luta de muitas mulheres negras, a autora mantém viva a memória do povo negro, excluído até mesmo dos livros de História do Brasil, sendo apresentados nas escolas apenas como pessoas que aceitavam a condição de escravas.

E se os homens negros são excluídos, imagine as mulheres! O livro de Jarid tem muita importância social, pois dá visibilidade para as mulheres negras que foram silenciadas (e por vezes ainda são), impedidas de falarem sobre si e sobre suas vivências e até mesmo privadas de aprender a ler e escrever.

É graças aos cordéis que podemos conhecer a história de Antonieta de Barros; Aqualtune; Carolina Maria de Jesus; Dandara dos Palmares; Esperança Garcia; Eva Maria do Bonsucesso; Laudelina de Campos; Luísa Mahin; Maria Felipa; Maria Firmina dos Reis; Maria Crioula; Na Agontimé; Tereza de Benguela; Tia Ciata; Zacimba Gaba.

Algumas dessas mulheres podem ser familiares para alguns dos leitores do Homo Literatus, como Carolina Maria de Jesus e Maria Firmina dos Reis. A primeira conhecida pela obra Quarto de despejo, um diário sobre suas vivências enquanto moradora da favela de Canindé. A segunda por seu livro Úrsula, o qual tornou Maria Firmina a primeira romancista que era negra e nordestina.

Todas as histórias dessas heroínas são marcadas por sede de justiça e por lutas, inclusive por elas lideradas, em busca de libertação para os negros. Mulheres como Dandara dos Palmares, Zacimba Gaba e Tereza de Beguela lutaram pela liberdade do povo negro, contra a escravidão. Lideraram verdadeiros embates contra homens brancos que se sentiram no direito de explorar negros, no trabalho e sexualmente.

 

Por que ler  Heroínas Negras Brasileiras: em 15 Cordéis?

O livro de Jarid Arraes, mais do que preservar a memória das mulheres negras, pode ajudar a todos nós a entendermos um longo período de injustiças sociais que marcou, e infelizmente ainda tem marcado, a História Brasileira.

Os cordéis podem fazer com que tomemos consciência do que foi excluído de nossa história. Mulheres negras e homens negros não podem ser vistos como escravos passivos ou rebeldes violentos. Todos possuem uma história, cultura e costumes, ou seja, raízes das quais foram arrancados a força.

Nossa história é marcada pelo silenciamento, pelo machismo, pelo racismo, pela escravidão e pelo sangue de muitas negras e muitos negros. E isso tudo está presente nos cordéis do livro Heroínas.

Jarid é também uma heroína, porque se engajou a falar sobre mulheres negras silenciadas. Desse modo, enfrenta o racismo e o machismo por meio de seus versos, com tanta coragem e força quanto Carolina Maria de Jesus e Maria Firmina dos Reis.

 

Referência

ARRAES, Jarid. Heroína Negras Brasileiras: em 15 cordéis. São Paulo: Pólen, 2017.

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