Editoras e projetos que inspiram I: Lago de Histórias

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Editoras e projetos que inspiram I: Lago de Histórias

Nesse primeiro artigo da série, conheça a editora e espaço cultural Lago de Histórias, dedicada a abraçar o encantamento e remexer as ideias

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Desde que publiquei meu primeiro livro infantil, me tornei mais atenta a esse nicho tão particular do mercado editorial brasileiro. E desde então venho acompanhando editoras que – mais do que terem os exemplares aceitos em algum edital – realmente acreditem naquilo que oferecem, tratem seus leitores com respeito e, sobretudo, entendam que esses leitores podem ter cinco, dez, vinte, cinquenta ou cem anos. Uma dessas editoras é a Lago de Histórias.

Tive o prazer de conhecer sua fundadora em uma oficina literária ministrada pelo escritor Márcio Vassallo. Helena Lima é dessas pessoas que transmitem uma energia confiável. Gentil, mas sabe o que está fazendo. Essa primeira impressão só se confirmou com o avanço da oficina e, posteriormente, quando Helena anunciou que abriria sua própria casa editorial.

Em tempos de crise – quando a educação e a cultura sofrem os mais severos ataques – abrir mão de uma carreira estável para se dedicar à feitura e comercialização de livros é mais do que coragem. É um ato de resistência. Afinal, se aqueles que acreditam no poder transformador da leitura desistirem dela, o que nos resta senão ignorância?

Helena conhecia os desafios que a aguardavam, mas de certo também conhecia o tamanho da sua vontade. Juntou seus vinte anos de sala de aula com a paixão pelo universo dos livros para oferecer não apenas uma editora: criou um espaço dedicado aos amantes de boas histórias.

Situado na Urca, o Espaço Cultural Lago de Histórias foi pensado para sediar todo tipo de atividade relacionada à Literatura. Oficinas de criação literária, palestras, visitas escolares, sessões de contação de história, lançamentos, entre outros. Das escadas desenhadas até o palco que permite maior interação com a plateia, o simpático sobradinho rosa e amarelo só poderia ter saído das caraminholas de alguém que gostasse muito – mas muito – de ler e criar.

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O catálogo da editora cativa por sua honestidade. São histórias que – apesar de tocarem em temáticas como sexismo, valorização das diferenças, medos e crescimento – não querem ensinar o certo e o errado, não se preocupam em terem tal tom ou tal cara. Elas oferecem um papo sincero ao leitor, como numa conversa em que os temas vão surgindo sem que ninguém precise subir num pedestal ou baixar a cabeça. Bom exemplo disso é Bia sem pressa, lembrete para encararmos a rotina com menos rapidez e mais poesia.

Particularmente, não gosto de perceber o “fator edital” nos livros que leio. Sobretudo nos infantis. Aquele mesmo jeito de desencadear as ações, aquelas mesmas temáticas exploradas (será que esse seria o termo correto?) da mesmíssima forma. Livros feitos sob encomenda para serem aprovados para determinado fim, garantindo vendas e, portanto, verba para a editora. Minhas experiências com esse tipo de livro sempre deixam uma sensação oca, sem alma. É como se o autor e a editora não acreditassem que algo fora do molde também pudesse trazer vendas e verba. Falta convicção e, curiosamente, despretensão. Sentir que aquela história tem qualidade e precisa ser contada. Entender que essa mesma história não vai chegar de maneira igual para todo mundo e que, muitas vezes, os maiores impactos virão dos detalhes singelos, das sutilezas espalhadas pelo texto.

Os títulos da Lago – de autoria de Helena Lima – passam verdade e aconchego. Uma característica muito instigante são os finais, em sua maioria abertos, suspendidos. A experiência da leitura é mais relevante do que as conclusões que o leitor vai tirar dela. É uma porta aberta, convite para discussão, releituras e reflexão. “Tome, leitor, essa história também é sua, faça o que achar mais interessante com ela” – dizem as entrelinhas.

Aliam-se a isso projetos gráficos cuidadosos, cada vez mais atraentes, orquestrados por ilustradores de diferentes gerações, estilos e trajetórias. O mais recente lançamento, Vicky, é um bom exemplo desse capricho.

Acredito que o título que melhor expresse a filosofia da editora seja Olga, também lançado em 2017. Com ilustrações e projeto gráfico da premiada Anabella Lópes, o livro provoca ao invés de simplesmente dar respostas. É o tipo de leitura que ecoa na gente depois que termina.

No momento, a editora está com sua primeira seleção de originais aberta. Em 2018, terei a alegria de inaugurar essa nova fase com um conto na coletânea Contos de Encantar o Céu, junto com Angela Leite de Souza (autora), Lúcia Brandão (ilustradora) e, claro, Helena Lima (autora).

Só posso desejar que a Lago continue encantando com simplicidade. Afinal, como diz seu próprio site:

A Lago de Histórias é uma editora que tem compromisso com a literatura que promove a fantasia, aguça a imaginação, desperta os sentidos, traz questionamentos, aumenta as dúvidas, desajusta as ideias, sacode as certezas, acorda as emoções e encontra poesia no imprevisível.

Que esse mergulho seja cada vez mais profundo. Vida longa à Lago!

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