Professora faz projeto de microcontos com alunos do 6° ano

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Muito se discute sobre a dificuldade de se trabalhar literatura de maneira efetiva e atrativa na escola. Considerando-se que, infelizmente, é raro que os alunos adquiram o gosto pela leitura com a educação doméstica, é preciso adotar novas estratégias para que eles consigam compreender e apreciar uma obra literária desde a infância.

Sabemos que o universo literário é bem mais rico do que costuma ser apresentado nas instituições de ensino. O que fazer, então, para que os alunos enxerguem isso e se tornem não apenas leitores críticos, mas também efetivos produtores de texto?

Um caminho possível é desenvolver projetos que engajem os alunos na prática textual, indo além da mera teoria literária. A professora Cecilia Garcia Marcon, também colunista do Homo Literatus e participante do podcast 30MIN, resolveu testar essa ideia com sua turma do 6º ano do Ensino Fundamental na Escola Curumim, em Campinas. Segundo Cecilia, o projeto surgiu em 2016, quando ela percebeu a agilidade de pensamento dos alunos de uma de suas turmas, que, além de ser bastante colaborativos e unidos entre si, tinham “sacadas rápidas” em discussões. A professora concluiu que essa habilidade poderia ser aproveitada para a produção de textos curtos e criativos.

Como, no 6º ano, são trabalhadas as variações de gênero e linguagem, ela resolveu estudar mini e microcontos com os alunos. Conforme o previsto, eles se identificaram com os gêneros compactos e decidiram, após incentivo e acompanhamento da professora, criar uma conta no Twitter para publicar suas próprias criações. A turma do outro período também se engajou no projeto. Assim, surgiu o @curumacontos.

O desafio era produzir textos impactantes e coerentes em 140 caracteres e com o uso de uma hashtag. As postagens eram semanais, com revezamento dos digitadores e discussões para desenvolver ideias pouco claras. Cecilia confessa ter ficado surpresa pelo fato de os alunos terem se aperfeiçoado tão rapidamente, pois logo percebeu o aumento da qualidade das produções ao longo do tempo. Outro ganho do projeto identificado pela professora é que os alunos também puderam ter uma maior noção do real alcance das redes sociais, já que pessoas que eles nem conheciam passaram a curtir os tweets. Sobre o conteúdo das produções, Cecilia comenta: “É interessante que muitos tweets são bem tristes e mórbidos, mas acredito que seja mais pelo fato de haver violência exposta a eles via tantas fontes do que por eles de fato. Tanto que os melhores, para mim, são os mais engraçados e poéticos”.

O projeto continua em vigor, com autorização da coordenação: a conta no Twitter passou a ser “hereditária”, de um 6º ano a outro. No fim de 2016, os alunos fizeram publicações emocionantes de despedida e boas-vindas à nova turma.

Ensinar gênero com produção coletiva é uma maneira de incentivar a leitura, a criação textual, a troca de ideias e a reflexão. O trabalho coletivo é um dos pilares da pedagogia de Célestin Freinet, adotada pela Escola Curumim, que foi reconhecida pelo MEC em 2016 como modelo de criatividade e inovação em Educação. “Sem dúvida, esses projetos só são possíveis em uma escola que viabilize dar voz ao aluno e não ao conhecimento encaixotado, que já vem pronto para ser decorado”, conclui Cecilia. Os tweets dos alunos podem ser conferidos @curumacontos. Dá uma conferida!

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