Em “Extraordinária”, série da plataforma Disney+, Jen sofre para encontrar seu superpoder em uma sociedade de heróis e grandes vilões.
Super-heróis em voga
A indústria do cinema e da televisão tem sido inundada por uma onda de super-heróis. Em praticamente todas as telas, somos apresentados a histórias de pessoas boazinhas que descobrem serem especiais e utilizam seus dons para ajudar a sociedade — ou se tornam grandes vilões.
Esses estímulos cinematográficos têm uma ressonância profunda em nossa consciência cognitiva, que está constantemente ávida por encontrar motivos para nos sentirmos especiais. Em uma sociedade onde todos anseiam por serem “o escolhido”, não é de surpreender que essas narrativas cativantes encontrem um público tão receptivo.
No entanto, esse fluxo é interrompido com pela irreverência da série “Extraordinária”, produzida pela Disney+. Ao contrário das tramas convencionais, “Extraordinária” apresenta uma premissa única e ousada. Nessa série, todas as pessoas do mundo ganham um poder especial aos 18 anos, tornando-as diferentes e especiais. Seja a capacidade de voar, ser invisível ou até mesmo dar orgasmos com apenas um toque – sim, é uma série para maiores de 18 —, os poderes variam e moldam a sociedade retratada.
A história de Extraordinária
A protagonista, Jen, uma irlandesa radicada na Inglaterra, já tem 25 anos e ainda não descobriu seu poder, o que faz com que ela tenha sentimentos de inadequação e fracasso, pois, nesse mundo, o poder muitas vezes dita a profissão e a identidade das pessoas.
Para lidar com suas frustrações, Jen conta com o apoio de sua melhor amiga, Carrie, uma médium com a habilidade de se comunicar com o mundo dos mortos, e a companhia do seu gato/humano chamado “Senhor da Esporra”. Juntos, exploram questões de identidade, autodescoberta e a busca por significado pessoal.
Uma série de temas importantes
“Extraordinária” destaca-se não apenas pela originalidade de sua trama, mas também pela abordagem de temas como a busca pela singularidade, o confronto com a inadequação e a importância da amizade e do autodescobrimento. Com uma dose certa de humor corrosivo e depreciativo, a série desafia as convenções tradicionais dos super-heróis ao apresentar personagens imperfeitos, em busca de suas próprias identidades — ou poderes.
Em um mundo saturado de super-heróis que reforçam a busca pela singularidade e pela sensação de ser especial, “Extraordinária” se destaca como uma proposta refrescante e divertida, e tem conquistado tanto a crítica quanto o público, garantindo à produção uma pontuação de 100% no Rotten Tomatoes e uma renovação para uma segunda temporada mesmo antes da estreia da primeira.
Ser especial ou ser normal
É uma história que desafia as expectativas do gênero e oferece uma visão única sobre a jornada de autodescoberta. Ao acompanharmos a trajetória de Jen, somos levados a refletir sobre uma dicotomia da vida: ser especial versus ser normal. O que nos torna verdadeiramente únicos? Será que nossa busca incessante por “poderes extraordinários” nos faz esquecer dos talentos e habilidades únicas que já possuímos?
Talvez a verdadeira grandeza resida na capacidade de sermos autênticos e de aproveitarmos ao máximo nosso potencial, independentemente de já termos descoberto nossos superpoderes ou não.
Série disponível nas plataformas Star+ e Disney+.
Créditos HL
Esse texto é de Gabriela Guratti para nossa coluna Cinemateca HL. Ele teve revisão de Raphael Alves e edição de Nicole Ayres, editora assistente do Homo Literatus.