
Os efeitos que o disco “Mother Earth’s Plantasia” causa nas plantas e em nós.

Entre as floriculturas e o Youtube
Com a promessa de agradar as plantas, o disco “Mother Earth’s Plantasia” era encontrado nos balcões da floricultura Mother Earth Plant Boutique, na Los Angeles dos anos 70.
Obviamente não conheci o disco em uma floricultura. Plantasia apareceu para mim em um lugar muito mais habitado hoje em dia do que a casa das plantas: o Youtube — cujo algoritmo às vezes acerta em cheio nas recomendações. E foi assim que uma madrugada de devaneios em 2019 foi adubada.
No lugar das plantas, o álbum dividia espaço com os recomendadíssimos vídeos de desafios — atualmente facilmente substituíveis por cortes dos milhares podcasts que existem.
O que me causou curiosidade foi a capa e o nome “Plantasia”. Cliquei sem dó. E, nos minutos seguintes, estava mergulhado em uma nostalgia sem base, rodeado por seres nunca vistos que me arrancaram sorrisos e lágrimas.
Um álbum de floricultura referência das grandes músicas
Mais do que me encantar com um hino para plantas, Plantasia me levou para lugares da minha infância, para mundos como Mario ou Zelda — que nem conheço tanto.
O álbum soa como a trilha sonora de jogos que marcaram muita gente. A relação não é tão absurda se pensarmos na época e nos instrumentos usados para a trilha sonora daqueles jogos. O absurdo é encontrar isso em um disco feito para plantas — e pessoas que as amam —, como avisa a capa do LP.
Mort Garson, o gênio por trás do disco, foi um dos pioneiros do uso de sintetizadores Moog. Foi um grande compositor de alguns clássicos da época, mas não ficava com a fama.

Além dos clássicos da música experimental, hoje podemos reconhecer os sintetizadores de Plantasia em várias músicas populares. Como nos álbuns de Tyler, The Creator — principalmente em “Flower Boy” e “Igor” — ou até mesmo em “Lemonade” de Beyoncé.
Acontece que o uso dos sintetizadores não é nada muito único ou novo, mas é interessante notar características sonoras semelhantes — e possível influência — de um álbum de floricultura em grandes obras.
Os efeitos causados pela música
Não sou a melhor pessoa para explicar que tipo de reações uma planta teria ao receber certo tipo de estímulo sonoro — ou mesmo se isso é possível. Porém, se nós, seres humanos, nos impactamos, por que outro ser não reagiria?
Entre afirmar ou duvidar, eu prefiro aceitar a possibilidade. Em último caso, o disco pode ser aceito como uma homenagem para plantas. Então, dê esse presente às suas e as coloque para ouvir.
Hoje, ouço Plantasia para mergulhar em mundos de menor risco, de quedas suaves, de chuva digital, de montanhas verdes e vilões amigáveis.
O álbum me leva para lugares enigmáticos e coloridos da minha imaginação, passando por florestas cheias de vida e convivendo com seres de uma bondade quase impossível. Tudo parece inofensivo, tudo parece me abraçar. É um bom refúgio para o momento em que vivemos, como um sítio longe de tudo.
Onde encontrar
Você pode comprar o disco de vinil, relançado pelo selo Sacred Bones Records em 2019, ou ouvir no Spotify ou Youtube.
Não vou indicar nenhuma faixa e nem tentar analisar algum ponto. Apenas arrume um tempo livre longe de qualquer distração, dê play na primeira música — ouça na ordem, é claro — e se deixe entrar nos universos de cada música. Só abra os olhos no final dos 30 minutos de álbum.
Boa viagem!
Indicação do Editor
Para quem leu até aqui e se deliciou com esse texto, vale passar no The Guardian para ler matéria do Alex Petridis sobre esse álbum de música experimental.