A emissora britânica BBC está desenvolvendo nova adaptação televisiva de “Guerra e Paz”, de Leon Tolstói. A clássica obra será transformada em minissérie de seis episódios (com uma hora cada) assinada pelo roteirista Andrew Davis (House of Cards). O que podemos esperar dessa produção?
Uma das melhores adaptações da obra clássica “Crime e castigo” de Dostoiévski para as telas foi a de 2002 pela BBC. Considerada pela crítica britânica como a mais fiel adaptação desse livro até o momento, a minissérie da BBC, dividida em dois episódios, foi filmada em São Petersburgo, onde a história é situada, trazendo um visual cinematográfico e uma boa reconstituição de época, brindada com belas interpretações.
Agora é a vez de outro grande escritor russo ser projetado nas telas pela BBC: Tolstoi. O livro “Guerra e Paz” escrito por Tolstoi já ganhou diversas adaptações para o teatro, cinema e TV. A mais conhecida é a versão cinematográfica de 1956, dirigida por King Vidor. Na década de 1970, a BBC produziu uma minissérie, estrelada por Anthony Hopkins.
Só que a BBC, nessa nova adaptação do “Guerra e Paz”, produzirá seis episódios e essa minissérie será adaptada pelo roteirista Andrew Davis, com previsão de estréia para 2015.
Será que realmente teremos uma grande adaptação? Pois, diferente da produção de 1956 que possui 3 horas e 28 minutos, essa nova minissérie terá seis episódios, o que permite, teoricamente, explorar muito mais as densas páginas do romance “Guerra e Paz”. Para termos uma ideia, geralmente, em manuais de roteiro, uma página escrita equivale a 1 minuto de ação. A pergunta que fica é: essa quantidade de episódios conseguirá abarcar bem essa obra literária?
De fato, o livro é grande e terão de cortar muita coisa. Não é fácil adaptar uma grande obra literária para o cinema ou para qualquer produção em imagens. Visto que foram encomendados apenas seis episódios, é de se concluir que muitas tramas e situações serão deixadas de fora desta adaptação. A não ser quando se trata daquelas obras que já “nascem” prontas para virarem filmes, serem totalmente comerciais. O que não é o caso de um Tolstoi ou um Dostoiévski da vida.
Mas, segundo a produção da BBC, o enfoque será as relações humanas e as trajetórias das principais famílias vistas no livro. O que não nos garante uma bela adaptação, pois considerando também toda a carga poética e filosófica que esses tipos de obras possuem, as idéias abstratas e pensamentos de um livro são mais complicados de ser traduzidos em imagens. As passagens onde há mais história e ação são as mais tranqüilas para virar filme.
Pelo visto, a dificuldade de adaptar uma linguagem (literatura) para um outro tipo de linguagem (cinematográfica), sem destoar muito da obra original, parece ser o desafio que a BBC quer assumir para produzir “Guerra e Paz”.
Sim, podemos ter esperança de que teremos uma grande adaptação, se considerarmos não só os recursos que eles querem utilizar, como os seis episódios, mas também outra adaptação de uma obra clássica feita com bastante sucesso pela BBC: o “Crime e Castigo” de 2002.
E para certos “críticos”, as relações entre Cinema e Literatura não podem ser vistas a partir do tradicional e ultrapassado ponto de vista que atestava a superioridade de uma sobre a outra. Era aquela velha história: o livro sempre é melhor do que o filme. Bobagem, ao meu ver. Cinema e Literatura possuem linguagens totalmente diferentes, que devem ser respeitadas e analisadas em suas especificidades.
Muitos dizem que os livros sempre serão melhores que as versões cinematográficas, mas a verdade é que algumas das melhores obras do cinema foram baseadas em livros e as pessoas talvez nem percebam.
Os cineastas como Hitchcock, Sidney Lumet e outros provam isso, e estes ditos aqui são os mais populares, pois tem mais que tiveram muitos sucessos nas suas artes, mas foram pouco conhecidos pelo público. Porém, não vou entrar na história do cinema para mostrar, com consistência e com fatos históricos, que é possível ter um bom filme baseado em obra literária e também não estou aqui enunciando que “Guerra e Paz” será um grande filme; o que quero comentar é simples: obviamente é que não devemos reduzir a apreciação de um filme à apenas comparações entre obra literária e cinematográfica, a comparação é importante feita com bastante cuidado respeitando os limites de cada linguagem.
Pois é, estaremos na torcida.