Recentemente, participei de uma Oficina de Contos na minha faculdade, administrada pela escritora Adriana Lunardi, que passei a admirar. Como eu nunca havia lido nenhuma produção dela, resolvi procurar. Foi assim que adquiri um exemplar de Vésperas, um livro de contos. A temática por si só já é interessante: são relatadas as vésperas das mortes de algumas escritoras. São elas: Virginia Woolf ou Ginny, Dorothy Parker ou Dottie, Ana Cristina César ou Ana C., Colette ou Minet-Chéri, Clarice Lispector ou Clarice, Katherine Mansfield ou Kass, Sylvia Plath ou Victoria, Zelda Fitzgerald ou Flapper e Júlia da Costa ou Sonhadora.
Os títulos dos contos são seus apelidos ou pseudônimos, o que denota intimidade. A escritora se sente próxima, deve se sentir próxima de suas colegas, ter um contato profundo com suas obras e suas vidas para representá-las dignamente. E, entenda-se, não são as grandes artistas, figuras imponentes e intocáveis, que estão ali representadas, como estátuas de homenagem. São as mulheres de carne e osso, com toda sua coragem e fragilidade, seus sonhos e decepções, suas conquistas e seus projetos inacabados.
Assim, Virginia mergulha no lago rumo à morte, presa pela pedra que escolhera semanas antes; Dottie vivencia seus últimos momentos de vida ao lado de seu fiel companheiro canino; Ana C. vem buscar um amigo que está partindo; Minet-Chéri recebe a visita de uma personagem como despedida; uma adolescente em conflito visita o túmulo de Clarice por sentir-se familiar a ela; Katherine finalmente encontra paz de espírito; um homem lê no jornal uma nota sobre o suicídio de Sylvia Plath e, mesmo que não seja um leitor assíduo de seus poemas, fica tocado por ela ter o mesmo nome de sua esposa; Zelda brinca de bailarina durante o incêndio no sanatório em que está internada; Júlia da Costa, cega e esquecida, sente que sua hora está chegando e não tem tempo de terminar seu único romance.
Somos movidos por desejos, emoções, sensações que pessoas e lugares nos despertam. Somos definidos por nossos laços e nossos pensamentos. Somos fadados a repetir e recriar histórias, tentando dar sentido à vida, antecipar ou adiar o inevitável fim.
Qual a importância do legado que o artista nos deixa? O que esses mitos humanos podem representar? Ter filhos, plantar árvores, escrever livros, maneiras de tornar-se imortal. Escrever livros. Para que alguém os leia. E depois?
Vésperas não é um livro de descobertas. É um livro para mergulhar e se perder em sua imensidão literária. Ao final, não sabemos mais o que há das autoras escolhidas, da autora dos contos e de nós mesmos ali, naquele universo de palavras fluidas. Percebemos que a vida é limitada, mas a arte é ilimitada, se servir de consolo. Vésperas não é uma lamentação da morte, é uma celebração da vida, real e ficcional. Vão-se as pessoas, ficam as ideias. Vão-se os escritores, ficam os livros.
Vésperas
Adriana Lunardi
Editora Rocco
2012
127 páginas