Jane Eyre: o reflexo da força de uma mulher

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Jane Eyre (interpretada por Ruth Wilson) na série homônima da BBC

Pode-se encontrar facilmente duas grandes marcas em Jane Eyre, romance autobiográfico de Charlotte Brontë. A primeira é a vivacidade, a paixão que Jane tinha pela vida que a impulsionava a seguir em frente, apesar dos tantos golpes que essa mesma vida que tanto amamos nos dá. E a segunda é a ligação entre ela e Rochester, alguém de quem se “sentia próxima”, a quem podia “entender a linguagem do rosto e dos gestos”.

Publicado em 1847 sob o pseudônimo masculino de Currer Bell, Jane Eyre é, na minha humilde opinião, a obra escrita mais perfeita que já existiu! Simplesmente porque os seus personagens são reais – sentem medo e raiva, têm dúvidas, erram…

Permitam-me lhes apresentar Jane Eyre.

Jane era uma garotinha órfã que vivia na casa de seu falecido tio, Sr. Reed, onde era maltratada pelo primo John e pela tia, Sra. Reed. O fim dessa “opressão” deu-se num dia chuvoso, em que Jane lia um livro. John, como de costume, veio importuná-la, e, arrancando-lhe o livro da mão, arremessou-o contra a prima, provocando-lhe um corte na cabeça. Dessa vez, Jane não ficou calada e partiu para cima do primo “Você é um menino mal, cruel!” – gritava. É esse o espírito de Jane que eu tanto amo – ela rebelou-se diante da injustiça, ela permitiu-se ficar com raiva. Uma das piores coisas que pode acontecer a um ser humano é ser injustiçado e não fazer nada a respeito – não porque não pode, mas porque não quer! Claro que a tia ia proteger o filho e, portanto, Jane foi trancada no quarto vermelho – um lugar que todos julgavam assombrado pelo falecido Sr. Reed.

Com ajuda do destino (ou da providência divina) a Sra. Reed resolveu mandar a sobrinha para uma escola bem longe – a Instituição de Lowood. Lá, Jane conheceu uma menina, Helen Burns, que se tornou sua grande amiga. As duas constroem uma intensa relação de amizade e cumplicidade. E pela primeira vez, Jane soube o que era ter um amigo, mas tão breve provou as migalhas da felicidade, esta lhe foi arrancada de forma abrupta e cruel. Estava sozinha novamente, entretanto, não se prostrou diante da situação.

(Trailer da série Jane Eyre, exibida em 2006 pela BBC)

Alguns anos se passam e Jane torna-se uma jovem mulher. Ela estudou e dedicou-se com afinco para tornar-se uma boa professora e mulher independente. Foi aí que a vida lhe sorriu e o anúncio de Thornfield Hall chegou – estavam precisando de uma professora para a pequena Srta. Varens, a protegida do Sr. Rochester.

Em Thornfield, Jane fez novas amizades, entre elas a Sra. Fairfax e seu patrão, Sr. Rochester. A relação entre ela e Rochester estreitou-se cada dia mais e, inevitavelmente ela acabou se apaixonando. Não foi algo bobo como estamos acostumados a ver por aí. Jane e Rochester despertavam um no outro o desejo de ser alguém melhor. Eles tinham certa afinidade e, de certa maneira, um complementava o outro. Mas claro, precisava haver algum empecilho. É a “concretização do mito”, como diria meu professor. Jane acreditava que Rochester estava apaixonado por outra pessoa, e portanto, afastou-se. Quando ele se revelou metade dela, o casalzinho pode enfim celebrar a união! Beijos e promessas, vestidos, joias – tudo sendo preparado para o casamento, quando de repente… bum! O destino veio com outro golpe. É, Rochester pisou na bola, mas eu o compreendo porque ele é um ser “real” – ele estava com medo e por isso fez o que fez (você terá que ler o livro para saber!).

Jane resolveu fugir de Thornfield e ficou alguns dias vagando até chegar a casa de St. John e suas duas adoráveis irmãs. Mesmo com o coração partido, começou a reconstruir a sua vida e se tornou professora das meninas do vilarejo. A minha heroína literária favorita parecia seguir aquela velha e boa filosofia – um dia de cada vez, o melhor ainda está por vir! – e por isso eu a considero um grande exemplo da força de uma mulher [Você pode ler também o texto “11 lições de Jane Eyre para mulheres do século 21”].

Eu vou deixar o final para vocês descobrirem, garanto que vocês não irão se arrepender de ler o livro!

 O reflexo da força de uma mulher

Charlotte Brontë era a mais velha das irmãs Brontë e a única que realmente vivenciou o fervor de suas obras entre a sociedade londrina. Filha de um pároco rural, Charlotte formou sua bagagem cultural na escola de Bruxelas, lugar onde também encontrou sua maior perdição: seu professor. Assim como Jane Eyre, a autora também foi tentada a viver um amor adúltero, mas apenas em seu livro, tal amor teve seu merecido final. A maturidade e a independência adquiridas nos anos passados em uma instituição de ensino rígida refletiram-se em sua obra, como sua dependência e reverência provenientes de sua formação religiosa. Sofreu a perda das queridas irmãs de maneira calada, seguindo sua natureza “contida”, debruçando-se ainda mais sobre sua arte. A escritora sentia-se extremamente inquieta com as histórias que carregava dentro de si, e essa inquietude só se dissolvia quando, de fato, as páginas estavam preenchidas com sua caligrafia. Nasceram O Professor, Shirley e Villette – e Charlotte imortalizou-se na literatura universal. Por volta dos 37 anos, casou-se com o pároco auxiliar de seu pai e pouco depois, enquanto esperava seu primeiro filho, faleceu.

Brontë na Broadway

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