O fato de alguns autores clássicos serem preconceituosos pode ser polêmico, mas os seus livros provam isto
Somos filhos de várias coisas, dentre elas da época em que vivemos. Acontece comigo e contigo que me lê agora. Não seria o contrário com os escritores. Há uma boa palavra em alemão (sempre há uma boa palavra em alemão) para definir esse fato: Zeitgeist, ou espírito da época. Os preconceitos são parte desse espírito da época, quer queiramos, quer não.
Para tanto, escolhemos sete deles para apresentar como e por que eles são autores preconceituosos.
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Tolstói
A visão que o autor russo sobre as mulheres não é nada confortável, mesmo para um autor da virada do século. Guerra e Paz, Anna Karenina, O diabo e Felicidade conjugal são obras impregnadas pelo severo moralismo do escritor, que lançava todas as mazelas e culpas ao sexo feminino. Tólstoi pode não ser um dos autores preconceituosos mais listados, mas foi um dos mais ativos.
William Shakespeare
Shakespeare não gostava de judeus e de mulheres. Como cita Leandro Karnal em um vídeo sobre Hamlet, o bardo expressava abertamente nas suas peças o preconceito comum sobre judeus, mesmo nunca tendo cruzado com um único durante a vida (judeus foram expulsos da Inglaterra no século XV e só retornariam no século XVII). As mulheres também são sempre vistas como traiçoeiras ou fracas. Novamente em Hamlet, há uma das célebres frases em que o sexo feminino é subjugado: “Fraqueza, teu nome é mulher.”
Monteiro Lobato
É chocante para os leitores de hoje encontrar o termo “macaca de carvão” em Caçadas de Pedrinho. Este talvez seja o caso mais famoso de racismo do qual acusam Monteiro Lobato, porém não é o único. Em O presidente negro, Lobato defendeu a esterilização de negros para que a “raça” desaparecesse. Em Urupês, é fácil encontrar descrições altamente descriminatórias com negros. Lobato é o clichê dos preconceitos de seu tempo.
Sir Conan Doyle
Dentre os escritores preconceituosos, Sir Conan Doyle mereceria um capítulo à parte. Os dois principais alvos eram as mulheres, as quais ele rebaixa aos piores níveis que se possa imaginar em certas obras. No entanto, ele era, em círculos menores, um grande defensor da emancipação feminina. O mesmo se pode falar acerca dos estrangeiros. Mesmo tratando alguns como lixo em seus livros, Doyle era um moderado entusiasta de um grande império britânico com os não-britânicos. Uma situação curiosa.
Louis-Ferdinand Céline
Um dos casos mais extremos de preconceito. Céline, célebre por romances niilistas nas décadas de 1930 e 1940, apresentou sua verdadeira faceta ao publicar obras anti-semitas e apoiar os Nazistas (inclusive ganhando prêmios e circulando em altas esferas). Mario Vargas Llosa, em entrevista, relata o sentimento de ter lido tais livros: “Foi um horror. Eu não compreendia como um grande autor poderia ser tão desprezível.”
Gustave Flaubert
Dentre os clássicos, Flaubert é o escritor preconceituoso esteriótipo. Sua visão sobre a mulher não é nada elegante. Madame Bovary, por exemplo, apresenta vários esteriótipos preconceituosos não só com a personagem-título, mas com a maior parte delas. Em seus romances e contos subsequentes, a visão negativa da mulher apenas se agravou.
Mark Twain
Apesar de não ser dos autores preconceituosos mais conhecidos, o fato de ter usado o termo depreciativo nigger em As aventuras de Huckleberry Finn. é desagradável. O escritor nunca se pronunciou acerca do tema, o que deixa a obra ambígua: se por um lado ele pretende apresentar uma voz positiva dos negros, por outro, o uso do termo não é nada favorável, antes preconceituoso e racista.