Em “Eu sou a lenda”, diante de uma pandemia global vemos que se manter firme, forte e são, não basta, é preciso ter esperança no amor e numa humanidade que não se pareça tanto com o vírus que ela mesma combate.
A história da vez, não é ficcional
Estamos acostumados a assistir histórias de heróis e vilões se enfrentando nas telas o tempo todo. Mas dessa vez, não temos os personagens da Marvel. E as telas não são do streaming. É a história da vida sendo contada. A gente assiste. Vive. E não dá pra desligar. Só queremos saber de uma tal de “vacina”, e quem escrever essa história primeiro, vira lenda.
Will Smith já viveu uma, no filme pós-apocalíptico Eu Sou A Lenda, de 2007, dirigido por Francis Lawrence. No longa (adaptação do livro de mesmo nome), Robert Neville (Will) é um cientista militar e único sobrevivente de uma pandemia que transformou a esmagadora maioria da população mundial em mutantes agressivos e sedentos por sangue, chamados no filme de “vampiros”. Motivado por uma esperança à Bob Marley, Robert busca incansavelmente por uma vacina.
É preciso se manter bem lúcido
O protagonista carrega nas costas o peso de toda uma espécie condenada. Manter-se vivo e saudável não é a única necessidade básica, ele também precisa manter-se lúcido. Acompanhado de sua melhor amiga, a cadela Sam, o protagonista se esforça ao máximo para mimetizar uma vida normal, ainda que isso seja impossível em sua atual condição.
Totalmente rigoroso com os horários, ele ainda dá uma passadinha na locadora nos finais de tarde (hábito comum para quem gostava de filmes na primeira década dos anos 2000), deixa a TV ligada ao fundo (passando matérias antigas), e também desenrola um bom papo furado, mesmo que seja com manequins. A sanidade aparente garante uma verdadeira lucidez.
Antes de entrar em casa, lembre-se
Sempre antes de entrar em casa, Robert precisa deixar um rastro de produtos químicos para que nenhum “vampiro” perceba que ele passou ali. É possível traçar uma série de paralelos entre as situações do filme e os dias de pandemia em que vivemos, porém, o paralelo mais sutil e importante que o filme nos oferece, é a descoberta de uma cura que já está dentro da gente.
Nós e o personagem de Will Smith temos muito em comum. Também nos deparamos em algum momento de nossas pandemias com o embate entre Deus e a Ciência. De onde virá o socorro? Os cientistas nos puxam para uma realidade indigesta, enquanto Deus parece cada vez mais furioso com seu rebanho. A união desses dois Titãs nunca foi tão urgente para o mundo real, em um cenário onde o que está se perdendo não é a esperança, mas sim a colaboração para vencer o mesmo inimigo.
No final das contas, essa união acontece no filme, mas para ser bem sincero, o final não merece tanta atenção. É que Robert, por anos se manteve motivado, mas não somente por suas habilidades com a ciência, antes de mais nada, ele fora curado por um sentimento profundo e verdadeiro de amor, que no meio de tudo o que lhe fora tirado, insiste em permanecer presente em seus dias tristes, na voz de Bob Marley. Tal cura o possibilitou desenvolver uma sensibilidade fundamental para seguir em frente, dia após dia, por mais difícil que fosse viver.
“…Ele (Bob Marley) teve esta ideia, como a ideia de um virologista. Ele acreditava que poderia curar racismo e o ódio, LITERALMENTE CURAR apenas injetando música e amor na vida das pessoas.
Um dia Bob ia dar um show num comício pela paz. Pistoleiros foram até sua casa e atiraram nele. Dois dias depois ele subiu naquele palco e cantou. Então, alguém o perguntou: Por que? ‘As pessoas que tentam tornar esse mundo pior não tiram um dia de folga. Como é que eu vou tirar?’, respondeu ele…”
– Robert Neville
Alguns paralelos a mais com a pandemia de 2020
É possível tirar muitas outras reflexões ao longo de todo o filme, traçar diversos paralelos com a pandemia de Covid-19, por mais incrível que pareça, a maior e mais alarmante mensagem que o filme nos dá está em seus primeiros 2 minutos. Acontece que o cenário pós-apocalíptico que vemos no filme se deu devido a uma alteração genética do vírus do Sarampo, feita em laboratório com a premissa de gerar cura para toda e qualquer doença, incluindo o câncer.
“…A melhor forma de descrever isso é, se você puder imaginar o seu corpo como uma rodovia, e imaginar o vírus como um carro em alta velocidade, com um motorista destrutivo ao volante. Imagine o estrago que esse carro poderia causar. Mas, se substituir aquele homem por um policial, o cenário muda. E foi o que nós fizemos…” Dra. Alice Krippin (personagem do filme)
Todos os testes foram feitos para que a ciência pudesse anunciar com orgulho a cura das maiores doenças da humanidade. Foi tudo muito rápido, em pouco tempo o que parecia ser a cura, se tornou a maior ameaça da espécie, transformando 99,99% da população em criaturas de pele grossa e comportamento agressivo.
Esse sem dúvidas é o maior alerta que o filme pode nos dar, pois o desespero por uma vacina, por mais urgente que seja, pode nos colocar em situações ainda mais catastróficas. É que a vida imita a arte, e mesmo os blockbusters hollywoodianos podem nos pôr no cantinho da reflexão, pois a pressão popular por uma vacina é grande, e as pessoas esperam que alguma solução no melhor estilo Homem de Ferro apareça.
Por que será que dói tanto na pele praticar a empatia e o respeito ao próximo? Talvez antes de termos uma cura para qualquer doença, precisamos curar outros males. Fiquem bem, e ouçam o Bob!
Let’s get together and feel alright
Ficha Técnica
Título original: I am legend
Distribuidor: Warner Bros.
País: EUA
Idioma: Inglês
Ano: 2007
Estreia no Brasil: 18 de janeiro de 2008
Gênero(s): Ficção
Duração: 101 min
Diretor: Francis Lawrence
Roteiristas: Mark Protosevich, Akiva Goldsman
Elenco: Will Smith, Alice Braga, Charlie Tahan, Salli Richardson-Whitfield, Willow Smith, Emma Thompson.