O nosso cotidiano é cercado por frases feitas. Frases prontas, que já estão gastas pelo tempo. Como por exemplo, “eu juro de pés juntos” ou “o futebol é uma caixinha de surpresas”. E elas são sempre muito úteis para nos ajudar a dizer, ou a explicar, algo que nos aconteceu. Como quando vamos narrar a alguém um acontecimento que se desencadeou por diversos fatores, e dizemos, “foi por N motivos”. Porém, essas frases feitas podem nos levar a um caminho paradoxal, pois, ao mesmo tempo em que facilitam a transmissão da mensagem, elas também nos mantêm no senso comum, já que ao usá-las, nós deixamos de criar e inventar novas frases para nos expressarmos. E foi pensando nisso, que o jornalista Humberto Werneck criou O Pai dos Burros – dicionário de lugares-comuns e frases feitas (Arquipélago Editorial).

O livro é um dicionário com 4.500 frases, dividido em 2.000 verbetes, com fórmulas que ouvimos, e dizemos diariamente por aí. Ele traz expressões cotidianas que são facilmente reproduzidas por nós, brasileiros, tanto no nosso dia a dia, como também em textos de jornais, revistas e programas de TV. Nele é possível encontrar frases como “A vida é feita de pequenas coisas” ou, também, “O futebol é uma caixinha de surpresas”.

Mas contrapondo-se às frases de senso comum, o prefácio do dicionário de Werneck cita uma ideia da socióloga e cientista política alemã Hannah Arendt: “Clichês, frases feitas, adesão a códigos de expressão e conduta convencionais e padronizados têm a função socialmente reconhecida de proteger-nos da realidade (…)”.

Em entrevista ao UOL, o autor revelou que a ideia de reunir as expressões surgiu do período em que trabalhava como repórter, no Jornal da Tarde, entre 1970 a 1973. “Havia lá uma preocupação extrema com o texto. Era preciso evitar expressões que, de tão batidas, perderam o sentido. O papel do jornalista é mostrar o novo, e não tem cabimento tentar dizer o novo com linguagem velha.” – disse Werneck.

O jornalista também explicou que o livro não tem um “caráter policial”. Que não é uma espécie de pode ou não pode. É apenas um alerta para que as pessoas evitem a mesmice do lugar-comum. E que, além disso, defende o seu uso criativo. A ideia, segundo ele, “é reciclar o lugar-comum, criando a partir disso, lugares-incomuns”.

Abaixo você pode conferir algumas das expressões presentes no livro:

O tiro saiu pela culatra
Ter um grande futuro pela frente
Jurar de pés juntos
Foi da boca pra fora
O mundo todo não vale o meu lar

O pai dos burros – Dicionário de lugares-comuns e frases feitas
Autor: Humberto Werneck
Editora: Arquipélago
Quanto: R$ 29 (208 págs.)