O livro é como uma colher, tesouras, um martelo, a roda. Uma vez inventado, não pode ser melhorado.Você não pode fazer uma colher melhor do que uma colher
“Ler livros é o passatempo mais glorioso que a humanidade já idealizou”, disse a poeta polonesa e prêmio Nobel Wislawa Szymborska em sua meditação sobre o porque lemos (em inglês). “Quanto mais necessidade de entretenimento e educação dirigida às massas forem encontradas por novas invenções, mais o livro vai recuperar sua dignidade e autoridade”, Herman Hesse disse uma geração mais cedo. Mas hoje, mais de meio século depois, o que sobra da dignidade e autoridade do livro enquanto distopias tecnológicas soletram seu falecimento e fetiches técnicos apertam sua vida em seus esforços incessantes para o “melhorar” além do reconhecimento?
É isso que o grande romancista italiano, ensaísta, filósofo e semioticista Umberto Eco (5 de Janeiro de 1932 – 19 de Fevereiro de 2016) examina em Esse não é o Fim do Livro – o registro de sua duradoura e abrangente maravilhosa conversa com o romancista francês, dramaturgo e roteirista Jean-Claude Carrière sobre o futuro do livro e suas recompensas perenes como mídia de uma humanidade insubstituível.
Eco olha o passado para discernir o futuro:
Uma de duas coisas vai acontecer, ou o livro vai continuar a ser uma mídia de leitura, ou seu substituto vai se parecer com o que o livro sempre foi, mesmo antes da invenção da imprensa escrita. Alterações do livro-objeto não modificaram nem sua função nem sua gramática por 500 anos. O livro é como uma colher, tesouras, um martelo, a roda. Uma vez inventado, não pode ser melhorado. Você não pode fazer uma colher melhor do que uma colher. Quando designers tentam melhorar uma coisa como um saca-rolhas, o sucesso deles é bem limitado; muitas ‘melhorias’ não funcionam. O livro foi rigorosamente testado, e é muito difícil ver como poderia ser melhorado para seus prósitos atuais. Talvez evolua em termos de componentes; talvez as paginas deixem de ser feitas de papel. Mas ainda vai ser a mesma coisa. Eco considera o porquê dos livros terem nascido antes e o que os faz tão resistentes na experiência humana.
Podemos pensar na escrita como a extensão da mão, e portanto quase biológica. É a ferramenta de comunicação mais próxima do corpo. Uma vez inventada, não se pode desistir dela… Nossas invenções modernas – cinema rádio, internet – não são biológicas. De olho na perecibilidade dos novos formatos de mídia, que se tornam obsoletos dentro de uma geração ou duas, Eco adiciona: “Querendo escolher algo fácil de transportar e que tenha se mostrado igual às devastações do tempo, eu escolho o livro”.
Traduzido e adaptado de artigo do Brain Pickings