A premissa de começar o texto com um questionamento faz parte de uma nova escola literária. A escola eu-tenho-a-resposta-dessa-pergunta-cabulosa-me-leia-por-favor. Não basta exigir atenção do leitor, precisamos prendê-lo. Em uma única linha aprisioná-lo pelos próximos três ou doze parágrafos. Cursos de criatividade e workshops (sério, eles usam essa palavra) são elaborados diariamente para enriquecer qualquer senhor que tenha publicado dois livros.
Aquelas velhas frases clichês que comparam uma coisa com ela mesma funcionam bem quando tratamos de quem escreve, pois há escritores e escritores. O escritor verdadeiro tem a alma artística dos dentes às unhas do pé. Encontra no que escreve conforto e a triste alegria de estar completo ao escrever. Digo isso sem respaldo algum, mas é preciso desconfiar destes que chamam o leitor. Praticam um texto comercial, como se quisessem vender ao leitor suas ideias. Fazem de seus textos grandes placas de carência.
Escritores e escritores
Danúbio entrou na sala. A ampla divulgação havia dado certo. O Workshop de escrita criativa estava lotado. Olhando ali de cima, calculou: cento e trinta e seis reais de cada um mais o valor das apostilas e voilá, estava ganhando dinheiro. Finalmente.
Esse é o típico exemplo – que faço generalizando e sem respaldo algum – sobre esses caras que ministram oficinas literárias. Escritores que fracassaram tanto em ter o ego acariciado por leitores quanto em ganhar dinheiro com uma obra literária pífia.
Publicitários de terno e gravata
Sobre o conceito criativo de publicitários trabalharem de bermuda, chinelos, rodeados de puffs e pantufas não posso divagar. Mas sobre o comportamento contrário a esse, me arrisco. Claro, me afastando da publicidade e levando ao assunto de volta à labuta da escrita. É possível ser escritor sem ter dores na alma, sem ter um quê de incompreensão pairando nosso universo. Sem ser o observador sorumbático? Não sei. Mas paira sobre essa geração uma necessidade absurda de ser diferente para ser artista. Nem todo hippie é um bom artista. Quero ver ser publicitário de terno e gravata. Quero ver ser escritor tendo uma rotina.
É complicado.
O que quero dizer com tudo isso?
Vejam, estou usando a técnica que recriminei na primeira linha desse texto. Colocando no intertítulo uma pergunta que só eu tenho a resposta. Mas, se você chegou até aqui, não preciso me preocupar mais em te prender. Vou apenas responder: o objetivo era fazer uma crítica a esse novo tipo de texto para web. Precisamos de imagens e intertítulos chamativos. Primeiras frases que aprisionem. Críticas pré-estabelecidas sobre tudo para que, no final, você desça a tela e me apóie ou – o que seria maior sucesso – critique cegamente.
Foi tudo ironia. Em breve estarei lançando minha oficina literária. Tem meu e-mail ali no rodapé.