Crônica: Amizades que correm o tempo – Sté Spengler

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Faltava pouco tempo para sair de casa para mais um dia de trabalho. O telefone toca. A voz do outro lado é imediatamente reconhecida – uma voz que transmite afeto e segurança. Imediatamente volto quatro anos atrás. O rosto dessa pessoa está diante de mim. Seus grandes olhos castanhos me fitam com serenidade. Ela estende a mão e segura forte a minha, dizendo que a seguraria até o final. A partir daquele momento eu soube que teria uma amiga para o resto da vida.

Não há como falar nesse episódio e nessa minha querida amiga sem me lembrar de Exupéry.

Antoine Jean Baptiste Marie Roger Foscolombe de Saint Exupéry, popularmente conhecido como Antoine de Saint Exupéry, foi um grande escritor francês (ilustrador e piloto também!). Sua obra de maior destaque é o Le Petit Prince. Eu, assim como muitos outros em todo o mundo, sou apaixonada por este livro que conta a viagem a Terra de um principezinho que morava em um pequeno asteroide.

Certa vez, o Pequeno Príncipe estava deitado sobre a relva, muito triste, quando encontrou uma raposa e convidou-a para brincar. O animal respondeu que só poderia brincar depois que ele a tivesse cativado. “O que é cativar?” o Pequeno Príncipe quis saber.

Afinal, o que é cativar?… Observe o que a raposa responde para o principezinho:

“Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste. Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo… […] Se tu queres um amigo, cativa-me!”

Muito bem. A pessoa de quem eu falei no início chama-se Débora. De fato, a Débora me cativou. Ela fez com que eu me sentisse única no mundo, e consequentemente, ela se tornou única para mim. Quando nós temos um amigo de verdade nossas alegrias são mais intensas e nossas tristezas menos angustiantes. Quando nós temos um amigo, sentimos que nosso coração está com ele, sempre pronto para ajudá-lo quando ele precisar. Nós também sentimos a presença desse amigo e a força que vem dele, mesmo quando a distância física que nos separa é significativa. Amizades como essa correm o tempo…

Nossas vidas são tão corridas, nunca temos tempo para nada. Mas ainda assim, quando nos esbarramos com alguém no meio dessa grande maratona da vida e nos deixamos cativar, certamente a corrida terá mais valor ao atingirmos a linha de chegada. Encontrar um amigo é como encontrar um tesouro e todo tesouro deve ser bem cuidado.

 
 

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