Crônica: Eu não gosto de couro – Sté Spengler

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No último sábado, fui ao shopping encontrar com meus tios que vieram de Curitiba. Passeamos um pouco aqui, passeamos um pouco ali, compramos umas coisinhas, até que meu tio resolveu levar minha tia a uma das lojas mais chiques do shopping – ele queria lhe comprar um presente (que amor!).

Entramos na loja e para a surpresa do meu irmão, não foi preciso pagar entrada (!). Fiquei olhando algumas peças enquanto minha tia se dirigia ao provador. Resolvi por fim dar uma olhada no que ela estava experimentando e me deparei com uma calça de couro bordô/marrom (sei lá que cor era!). Ela pediu minha opinião e eu fui sincera, talvez até demais: “Nossa, eu não usaria isso daí!”.

Quando a vendedora me ouviu, logo entrou em ação:

– Calças de couro estão super na moda. Se você for comprar uma calça no exterior, só vai encontrar de couro. – falou, me olhando como se eu fosse um ser de outro mundo.

– Eu não preciso comprar uma calça no exterior, obrigada. – respondi educadamente.

Ela agora me olhou dos pés à cabeça.

– Mas até aqui no Brasil. Jeans, por exemplo, não se usa mais! Quer dizer, a frente da calça até é jeans, mas atrás é couro!

– Ok, moça, mas eu não gosto de couro…

– Você não é muito moderna, né? Você tem quantos anos? – retrucou a vendedora, cruzando os braços sobre o peito.

– Quinze. – respondi sarcasticamente, mas minha tia logo corrigiu.

– Vinte anos? Nossa! Eu tenho dezenove. – murmurou, altiva.

Oh, meu Deus, dezenove anos, grande coisa! Eu aparento ter menos do que vinte e ela muito mais do que dezenove – isso mostra que a visão dela não está tão afetada quanto seu cérebro. Talvez devêssemos voltar a conversar quando ela estiver com cinquenta anos e parecer uma mulher de oitenta.

– Que tipo de roupa você gosta?

– Eu sou mais conservadora, gosto de roupas mais sérias.

– Então vou te recomendar a loja em que a minha avó frequenta!

Meu sangue ferveu. Eu simplesmente sorri para a vendedora e cumprimentei mentalmente minha consciência – eu não ia ficar perdendo o meu tempo discutindo com aquela mulher, tinha coisas muito melhores a fazer: contar carneirinhos, por exemplo.

Resumindo a história: gosto é gosto e não se discute. Sabe por quê? Porque o gosto de alguém está intimamente ligado ao tipo de pessoa que ela é. A probabilidade de uma filhinha de papai metida a princesa se vestir de preto e colocar um piercing na língua é muito remota, certo? Assim como a probabilidade de uma pessoa mais séria vestir uma minissaia e um top também é. Não estou rotulando ninguém, mas precisamos admitir que essa é a realidade. Embora não a defina, o caráter de uma pessoa tem forte influência em como ela irá se apresentar diante da sociedade – é como um cartão de visita.

Eu não gosto de couro, esse é o meu gosto, ESSA SOU EU.

 

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