Você conhece o fenômeno das geladeiras literárias que se espalha pelo Brasil nos últimos tempos? Conheça este e outros projetos que visam aumentar o contato com a leitura de forma criativa
Já é de longa data a discussão que aborda a situação dos leitores no Brasil. Ela aponta o baixo nível de atividade e debatendo (ou tentando encontrar) suas possíveis causas e possíveis soluções. Da precária qualidade do sistema educacional, passando por simples desinteresse, até teorias mais extremas, como a dominação tecnológica, chega-se a mesma ideia no fim. Portanto, ao deixarmos a mesa do bar e irmos para casa, pensamos: brasileiro não gosta de ler.
Entretanto, no último levantamento feito pelo IBOPE, a média de leitores foi de 56%, usando como critério indivíduos que haviam lido pelo menos um livro nos últimos 30 dias. Naturalmente, esses dados não refletem toda a população brasileira e todas as suas camadas. Antes é um ponto de partida para pensarmos em como ajudar a espalhar a literatura, o que também é o objetivo do projeto que dá nome a este texto.
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POR QUE O BRASILEIRO LÊ TÃO POUCO?
GELADEIRAS LITERÁRIAS?
Alguns meses atrás, no terminal rodoviário da cidade de Catanduva, interior de São Paulo, surgiu uma presença inusitada: uma geladeira. Curiosas, algumas pessoas decidiram abri-la, verificando que os seguranças do local não pareciam impedi-las. Mas a morte não veio. Ao abrirem a porta, outra surpresa: vários livros, esperando por novas mãos e olhos.
Essa proposta surgiu em meados de 2015/2016 e já foi aplicada em várias outras cidades, como Sorocaba, Jundiaí e Mogi das Cruzes. Reportagens as descrevem como movimentos culturais, iniciativas para não apenas tentar criar novos leitores, mas praticar a arte do desapego.
A ideia é simples: escolha um ou mais livros da sua casa, vá até uma geladeira se encontra e coloque-os dentro dela. Pronto. Agora é só esperar alguém encontrar o seu livro e compartilhar da mesma experiência que você teve com ele.
Você deve estar pensando: isso é a descrição de uma biblioteca. De fato. Contudo, muitas pessoas nem ao menos sabem a localização da biblioteca de sua cidade, ou dizem nunca ter tempo de visitá-la. E se, no seu caminho para o trabalho, você esbarra com a oportunidade de parar por alguns minutos e escolher uma história para levar para casa?
Não é por isso que nós, leitores vorazes, ansiamos o tempo todo? Termos alguém para conversar e compartilhar a experiência que tivemos com uma narrativa incrível e que ninguém mais conhece? Será que, se o fenômeno das geladeiras literárias fosse uma cultura concreta e parte da identidade de uma comunidade, os números de leitores, assim como a atividade em bibliotecas, não mudariam?
BOOK CROSSING
Um projeto semelhante é o Book Crossing, também conhecido como “Livros livres” ou “Livros viajantes”. Criado em 2011 por Ron Hornbaker e presente em 132 países, entre eles o Brasil. A organização do projeto, com ajuda dos leitores, estabelece pontos fixos pela cidade onde você deixa o seu exemplar para ser encontrado por outra pessoa, com um recado: “este livro costumava pertencer a mim, e agora pertence a você. Quando terminar de lê-lo, deixe em algum lugar para que outra pessoa tenha a mesma experiência.”
A diferença é que no Book Crossing os pontos podem ser lugares aleatórios da cidade. Um banco na sua praça, um restaurante, um café. O que conta é a iniciativa de atingir mais leitores.
Talvez projetos como as geladeiras literárias e os livros viajantes sejam um caminho alternativo para atrairmos mais pessoas para os universos de imaginação e mistério que tanto amamos, ao invés de fecharmos esses mundos dentro de nichos e pequenos grupos. Feche o seu computador e olhe para a sua estante.
Que tal deixar um desses passageiros viajar para uma outra mente?
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Informações sobre o BookCrossing
*Dados da pesquisa de leitores retirados do site do IBOPE.