Já há muito tempo, ouço falar que Vidas Secas, de Graciliano Ramos, ao lado de Memórias Póstumas de Brás Cuba, de Machado de Assis, são os melhores romances já escritos por brasileiros. Resolvi por à prova; a afirmativa. Minha opinião sobre o caso, no entanto, foi dissonante ao que ouvia falar.
Graciliano Ramos conta a história de Fabiano e sua família, a qual é composta por Sinhá Vitória, o filho mais velho, o filho mais novo e, pode se dizer, a cachorra Baleia. No princípio do livro, esta família está se arrastando pelo sertão nordestino, sofrendo com a eminente seca. O cenário desesperador é o pano de fundo para o enredo melancólico. Quando a família está quase morrendo, acontece uma reviravolta, que acaba por impulsionar a trama a um novo limiar.
O que falarei a seguir é pura e simplesmente minha opinião. Não falarei por desdém. Não tenho problemas em ler clássicos; na verdade, até intercalo em minhas leituras mais “pops”, por assim dizer, algumas obras clássicas; Memórias Póstumas de Brás Cuba, aliás, é uma das minhas favoritas. Entretanto, Vidas Secas foi uma grande decepção.
A começar pelo título, o qual me fascina, mas que a casar com a obra, soa-me incômodo; parece-me um título cinza como a cidade em uma obra que tem um cenário marrom-avermelhado como o sertão.
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Sobre o personagem principal, Fabiano, penso ser extremamente contraditória em algumas partes. Por exemplo, o sujeito é demasiado ignorante a ponto de mal conseguir falar, porém articula alguns pensamentos e reflexões que não condizem com seu nível de compreensão própria. Desculpem-me os críticos catedráticos que o amam, mas isso isto é inverossímil. O autor conseguiu criar um ótimo personagem, no entanto o coloca numa posição questionável como esta.
Já no caso de Sinhá Vitória, penso que Graciliano Ramos “acertou a mão”, pois fica claro a motivação dela no livro, conseguir uma cama de verdade onde ela e o marido possam dormir como gente. Acredito que existe uma conexão entre o leitor e a personagem. Todos nós queremos alguma coisa que nos parece distante.
Os filhos, porém, não me chamam a atenção. Eles não passam de miniaturas do pai.
A personagem menos decepcionante do livro é a cachorra baleia, a qual não fosse o fato de a narrativa parecer ter o compromisso de ser realista, até seria uma personagem interessante; contudo, como já disse sobre Fabiano, soa-me inverossímil o que Graciliano Ramos tenta fazer em termos de atribuir pensamentos a ela.
Gostaria que ficasse claro que não tenho problemas com o pessimismo do autor, pois também me considero pessimista; apenas não me agradou a narrativa e a construção de personagens.
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