A tecnologia não está acabando com a leitura, ela está acabando com leitores

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A tecnologia não está acabando com a leitura, ela está acabando com leitores

Alguns pontos a se pensar em como a tecnologia tem afetado direta e indiretamente a leitura

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Tive a ideia deste texto depois de postar na página do Facebook do Homo Literatus a imagem acima e ver a repercussão que ela teve (para ver, clique aqui). Foram 203.983 pessoas alcançadas até o momento em que escrevo – se você quer ter a ideia de quão grandioso isso foi, a página do Homo Literatus possui 65.670 curtidas enquanto escrevo e um post, na média, alcança de mil a três mil pessoas. Ao ver, alguns dias atrás, o alcance da publicação, fui obrigado a ler os comentários e entender o que aconteceu. Me surpreendi ao notar que a reação da maioria foi negativa, muito negativa.

Muitos dos comentários me chamaram a atenção, pois não tratavam exatamente do que a imagem apresenta. Me explico. Lendo a imagem – sim, é esse o verbo mesmo – vemos cinco aparelhos eletrônicos enterrando um livro físico. Os aparelhos são: um fone, um smartphone, um joystick, um mp3 ou Ipod e um tablet. Dá para interpretar muita coisa, mas, no geral, a leitura mais simples é de que a tecnologia, representada pelos eletrônicos, está tomando o lugar da leitura, representada pelo livro, enquanto a conhecíamos. No entanto, lendo os comentários, muita gente falou sobre (tan tan tan tan) livro digital e a substituição do livro físico. Pior, acusaram o site de ser retrógrado por não dar vazão aos novos formatos, de não gostarmos de vídeo games (eu gosto), de menosprezar outros meios que podem levar à leitura etc.. Falo por mim quando digo que não é nada disso. Não temos nada contra novos formatos de leitura (li muito pdf de livros no notebook e amo meu kindle). Além disso, poderíamos discutir várias coisas na imagem, menos sobre suporte de leitura, já que ela não fala nada sobre. Nem vou perder meu tempo sobre a parte de que o vídeo game ou a música está tomando o lugar da leitura, pois logo isto estará no bolo.

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Outra alegação foi a de que nunca antes na história desse país se leu tanto e se vendeu tantos livros. Há um ano fiz um texto sobre o porquê o brasileiro lê tão pouco (para ler, clique aqui), usando como base uma pesquisa da época. Em resumo, os dados apontavam que o aumento existe de fato, mas é tão minúsculo comparado ao aumento populacional que, caso coloquemos ambos os dados lado a lado, eles acabariam praticamente se anulando.

Paradoxalmente, o mundo cada vez lê mais ao mesmo tempo em que a leitura de livros, digitais ou físicos, estagnou. O advento da internet redirecionou o foco de atenção do mundo no século vinte e um. Isso não é uma crítica ou elogio, apenas uma constatação. Textos menores e mais ágeis de sites como o Homo Literatus são um exemplo.

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Atire a primeira pedra quem nunca presenciou ou praticou a cena acima

O perfil médio de leitura de uma pessoa hoje tem demandas diferentes. Textos mais longos e/ou complexos são descartados por serem longos e/ou complexos. A plataforma internet acabou criando uma dinâmica diferente para a informação, mudando os textos e o seu padrão. Se por um lado a tecnologia deu possibilidade de grandes grupos de leitores (sites com o Homo Literatus e Literatortura, booktubers e Skoob são prova disso), por outro ela não aumentou o número destes. Mesmo, como citado nos comentários, com as novas possibilidades de leitura no celular, tablet, kindle, entre outros, o nível nacional e mundial continua o mesmo. Mais, o leitor mudou e se tornou menos tolerante com textos que ocupam muito espaço, longos, que não são obsessivos com o ir direto ao ponto.

Além disso, temos um ponto prático. O dia ainda mantém as suas vinte e quatro horas. Com a tomada de espaço de eletrônicos conectados a internet da última década, o tempo hábil para leitura diminuiu. O tempo que você utiliza para ler este texto, por exemplo, poderia ser usado à leitura, mas você preferiu me ler (sabe-se lá o porquê). Computador, tablet e então o smartphone ganharam terreno nas nossas vidas. Mesmo que o ato de leitura se mantenha, o leitor, aquele que senta com seu texto, indiferente de plataforma, está diminuindo – ao menos como nós o conhecemos. Obras extensas (entenda obra extensa como algo que vá além de duzentas páginas) estão perdendo leitores. O mercado do livro aumenta na proporção que a população aumenta como um todo. A possibilidade de maior acesso a obras, literárias ou não-literárias, não significou um aumento real de leitores.

Em resumo: a tecnologia não está acabando com a leitura, ela está acabando com leitores enquanto os conhecemos. Seu perfil pode apenas estar mudando, o que não é bom nem ruim. O fato é que muitos leitores ativos, novos ou experientes, têm dedicado cada vez mais tempo ao celular e a eletrônicos em geral. Isto é um fato que não podemos negar. Como a experiência nos ensina, não podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo.

A escolha é nossa.

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