Neil Young não sumirá

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Neil Young Playing Guitar

Nesta época em que biografias são quase que malditas, se já não se tornaram de fato, trago aqui uma que acabo de ler. Neil Young nos coloca na mina a procura de todo ouro possível que há em qualquer coração. No entanto precisa-se ser um bom garimpeiro pra conectar sua percepção ao local correto onde se encontra o tesouro. Porque, como ele mesmo mostra, não há uma consistência na história, não há uma cronologia. É um livro escrito como suas canções são escritas, com um fluxo lírico. Cada pagina falando de seus diversos projetos. Sempre de forma emocionada, emocionante. Suas coleções de trens em miniatura. Sua paixão por carros antigos. A “estrada”, seu grande Karma. O seu amor pela natureza, e sua vontade de construir um automóvel que não seja dependente dos combustíveis fósseis, mas que utilize etanol celulósico de biomassa.  Suas aventuras no cinema. Seu amor por carros antigos.  E claro, tem a Música, a grande paixão deste artista preocupado com a qualidade do som que ouvimos. Porque o que importa para um músico senão como sua música vai reverberar por aí?

Mas falemos propriamente de Nei Young. Canadense de Toronto, filho de… espera aí, estamos falando aqui de um dos mais emotivos artistas do Rock’n’Roll. Se a ousadia me permite, vou pular datas e o pedagógico modo de exposição. Mas claro que vou citar os pais dele, pois ele fala com tanta emoção da macarronada de seu pai Scott Young que seria injusto não colocar a informação aqui. Injusto também seria não citar aqui o apoio imenso que sua mãe, Edna ‘Rassy’ Young, dava ao sonho musical de Neil.

Neil Young with Dogs
Neil Young (1971)

O livro é uma canção, uma que Neil está procurando atualmente, pois ele está preocupado por não conseguir compor. Enquanto isso ele nos conta sobre os Squires, a Buffalo Springfield, a Crosby Stills Nash & Young, e a Crazy Horse, e de sua carreira solo. Nos conta sobre seu filho Ben Young, que nasceu tetraplégico, de sua filha Amber, de seus amores, de sua esposa Pegi Young.

Não sei se as pessoas que leram perceberam tudo como uma grande composição, uma grande e bela folk song, pois soa como música para os olhos.  E estão nas páginas de sua autobiografia as drogas, as badtrips, as goodtrips com elas; os pesadelos da fama; os sonhos que ele ousou sonhar acordado. Na foto da capa está lá: HIPPIE DREAM. E é claro, a conexão deste homem com o mundo, a tentativa de alinhar sua existência ao ‘Grande Espírito’, como ele costuma dizer. No entanto, ele compreende a dificuldade: “ninguém acredita em minhas idéias até eu concretizá-las”. Mas ele louva a todos os seus bons amigos, os encontros com Joni Mitchell; a caminhada que deu com Bob Dylan, e lembra principalmente dos que não estão mais aqui. Em especial ele se lembra do produtor David Briggs, com muita emoção: “Sinto o peso de cada erro que cometemos durante nossa longa amizade… Sinto a ausência de sua inacreditável energia para a música, combinada com a minha”.

Mas Neil Young não é perfeito: “Desde os dezoito anos, nunca fui tão certinho”. Ele não teme dizer que decepcionou muita gente e tomou várias decisões equivocadas. Mas ele sempre teve, e mantém uma verdade, um trunfo dourado em seu coração: “Reescrevi apenas um parágrafo até agora. Não existe revisão ortográfica para a vida… Obrigado, Bob. Eu precisava disso. ‘How many roads must a man walk down before they call him a man? [Quantos caminhos um homem precisa percorrer antes que possam chamá-lo de homem?]”.

Um artista que aprendeu cedo o que não se pode esquecer, um ensinamento de seu amigo David Briggs: “seja excelente, ou suma”.

Neil Young laughing

Recentemente (2011), ele esteve no Brasil, numa Palestra em São Paulo no festival SWU (Stars With You). Mas ele queria comunicar ideias e não a sua imagem: “nunca me considerei um ativista. Quero apenas ter voz. Podem me chamar do que quiser. Estrela do Rock?”.

Mas digamos que o grande projeto de Neil Young seja o de apresentar a Música como arte, algo que muitos têm esquecido, mas ora bolas, é o que a Música é, e ele fica puto por sermos tão descuidados. Chamado inicialmente de PureTone o sistema Pono promete qualidade de som num nível master, ou seja, a mesma sonoridade maravilhosa que se têm no estúdio de gravação. Se esse cara não é um artista, então devemos dar outro nome para pessoas que querem nada menos do que a perfeição; mesmo sábio o bastante para entender que a perfeição é um horizonte pelo qual vamos crescer sem de fato precisar saturar as possibilidades. Nas palavras dele: “hoje a música é apresentada como uma mídia de entretenimento, uma brincadeira, sem a qualidade integral de áudio, como um bom passa tempo ou brinquedo, não como uma mensagem para a alma”.

neil-youngE o que ele quer é: “Seja excelente, ou suma”.

E apesar de se dizer introspectivo, as palavras de Neil Young em sua biografia são extrovertidas, leves e emocionantes como o RocK’n’Roll.

E como a maioria dos artistas genuínos, Neil Young procura o sentido das coisas, das pessoas ao seu redor, da vida principalmente. E como todo gênio sem ingenuidades, digamos que ele não se mete a besta em responde tal pergunta de forma absoluta: “Para onde isso nos levará? Que me fodam se eu souber a resposta…”.
Escrevi este texto enquanto escutava vários dos álbuns dele,  da discografia; porque estou ouvindo a alma deste homem, deste poeta, deste músico, tentando captar o grande espírito de um verdadeiro artista. É como no verso da música que mais gosto:

I wanna live, I wanna give

I’ve been a miner for a heart of gold

neil1[Eu quero viver, eu quero doar

Eu tenho cavado em busca de um coração de ouro]

 

E esta autobiografia tem um resplandecente brilho dourado em todas as páginas. Boa leitura.

Neil Young – a autobiografia
Neil Young
Editora Globo
408 páginas

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Poetaescritorcineasta, tudo junto mesmo. Morando em Fortaleza- CE. Formado no Curso de Realização em audiovisual da Vila das Artes; cursando Filosofia(Bacharelado) na Universidade Estadual do Ceará. Teve o poema “O Real-Fantástico” premiado no I Concurso Cultural PRAE/UECE. Diretor do curta-metragem “Breviário da Decomposição”, premiado como Melhor Filme (curta) e Melhor Fotografia no CINEMAMUNDO – V Festival Internacional de Cinema de Itu, Mostra Competitiva Iberoamericana de Curtas-metragens. Diretor do filme em curta-metragem “Forças Terríveis” (ainda em processo de montagem). Participou de várias produções audiovisuais. Atualmente colaborando com a revista eletrônica ‘obvious’, principalmente com artigos sobre cinema. No entanto (havendo ‘destino’ ou não) nasceu para escrever.

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