O Pequeno Príncipe e a Responsabilidade Afetiva

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O Pequeno Príncipe e a Responsabilidade Afetiva

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, a frase clássica da obra O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, pode soar um tanto clichê, mas tem seu fundo de verdade

Existe um termo chamado “responsabilidade afetiva”. Basicamente, significa ser empático, levar em consideração os sentimentos do outro dentro de uma relação. Se nos envolvemos com aquela pessoa, nos comprometemos com ela. Existe um acordo implícito em que a sinceridade e a honestidade devem imperar. Evidentemente, há limites: não podemos usar isso para chantagens emocionais, cobranças excessivas, que não contribuem para nada, e apenas minam ainda mais a relação. A responsabilidade afetiva não nos dá direito a exigir tudo o que queremos ou esperamos do outro, mas nos ajuda a entender que não podemos também, por nosso lado, fazer tudo o que queremos, sem pensar nas consequências.

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É preciso ter sensibilidade para se lidar com pessoas, compreender que palavras e atitudes têm seu peso, tomar cuidado onde pisamos e para onde levamos o outro. Isso serve para qualquer tipo de relacionamento, da amizade ao namoro. A amizade pueril entre a raposa e o Pequeno Príncipe, no livro, é apenas um belo exemplo de como o mecanismo funciona. A raposa foi conquistada pelo Príncipe, tornou-se sua amiga, portanto mostra-se ansiosa com sua chegada e triste com sua partida. É natural.

Quando gostamos de alguém, nos apegamos, valorizamos a companhia daquela pessoa, fazemos festa mesmo, rimos, choramos, experimentamos diversas emoções ao longo da relação. Fugir disso é fugir da vida. Não há vergonha em se apegar. É bonito, e envolve sua dose de sofrimento, pois é preciso entender que a pessoa nem sempre estará disponível para nós ou fará o que desejamos.

Inteligência emocional 

Existe outro termo chamado “inteligência emocional”, muito valorizado atualmente. Trata-se da capacidade de lidar com suas emoções de maneira madura, sabendo se controlar e se acalmar em situações adversas. Isso não significa não sentir, porém adquirir o domínio de si, o que não é fácil, mas perfeitamente possível e bastante eficiente. Só funciona se a pessoa se conhece bem, entende seus pontos fracos e fortes e usa isso a seu favor.

Assim, individualmente, podemos nos fortalecer com autoconhecimento e autodomínio para que, no plano de um relacionamento, consigamos nos respeitar e respeitar o outro, estabelecendo limites saudáveis. É preciso deixar a infantilidade e o egoísmo de lado, abrir-se ao diálogo, à intercompreensão, ao aprendizado com o outro. Tudo isso envolve uma grande dose de responsabilidade, sobre nós mesmos, sobre o outro, sobre o relacionamento. Não somos responsáveis pelo que sentimos ou pelo que o outro sente, porém somos responsáveis pelo modo como agimos em relação ao próximo. Temos o poder de escolha. Se fazemos algo que sabemos que magoará o outro, erramos. E, à exceção de psicopatas, nos sentimos culpados. Então, para que prejudicar a si mesmo e a outra pessoa em função de erros que poderiam ser evitados? Como? Por meio da autorreflexão, da autocrítica, da consciência, da conversa franca e aberta.

Todos somos humanos e suscetíveis a falhas. No entanto, creio que, onde há consciência da responsabilidade, há menos espaço para o surgimento da culpa. Não é divertido brincar com os sentimentos alheios, é apenas perigoso e infantil. Devemos perceber onde podemos estar errando a tempo de remediar a situação. Devemos agir como adultos responsáveis, maduros e sensíveis às vontades próprias e alheias. Descompliquemos o que já é, por si só, complexo. Plantemos o amor apenas se tivermos a intenção de alimentar o sentimento regularmente. É sempre muito bonito e arriscado se entregar a uma nova relação. Podemos fazê-lo sem medo, porém com a consciência de que nossos atos terão consequências e colheremos o que plantamos, mais cedo ou mais tarde.

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